A mais-valia epistemológica da categoria literatura-mundo comparada nos estudos literários e pós-coloniais

Autores

  • Inocência Mata Universidade de Lisboa

DOI:

https://doi.org/10.51359/2317-5427.2020.248002

Palavras-chave:

literatura-mundo, literaturas nacionais, epistemologia, estudos pós-coloniais

Resumo

Literatura-Mundo, campo relativamente novo nos estudos literários, é uma categoria que deve ser entendida no âmbito da Literatura Comparada. Entendida como “refracção elíptica das literaturas nacionais”, que muito ganha como a tradução, literatura-mundo deve ser considerada um “modo de ler” (DAMROSCH, 2003, p. 281). É por isso que se torna um instrumento importante pois, como afirma David Damrosch, a literatura-mundo não é um infinito, inapreensível cânone das obras, mas sim um modo de circulação e de leitura, um modo que é tão aplicável a obras individuais quanto a um corpo  de obras, um modo disponível tanto para ler clássicos consagrados quanto para ler novas descobertas. Sobretudo num espaço-tempo (pós-colonial) em que obras de escritores de espaços outrora colonizados se “confrontam”, não raramente, como os da ex-metrópole. O que pretendo nesta reflexão é mostrar como no âmbito da produção cultural, de que a literatura é uma vertente, esta categoria permite considerarem-se outros paradigmas, perspectivas, gostos estéticos e, sobretudo, pontos de observação, para dar conta da diversidade das tradições literárias, sem que uma hierarquização se torne bissetriz dos estudos literários, como normalmente acontece nos ensaios literários, sobretudo por parte de estudiosos das literaturas africanas.

Biografia do Autor

Inocência Mata, Universidade de Lisboa

Professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Pesquisadora do Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa. Pesquisadora Associada do Instituto de Estudos da África da Universidade Federal de Pernambuco (IEAf-UFPE).

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Publicado

21-08-2020