É a precariedade o fundamento das relações agonísticas?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.51359/2317-5427.2022.257649

Palavras-chave:

antagonismo; democracia radical; Judith Butler; precariedade; relações agonísticas

Resumo

A democracia radical é uma teoria política que tem como problema central o dilema do plural. Tal dilema consiste no entendimento da política democrática como locus de antagonismos. Nesse sentido, os antagonismos podem ser caracterizados pela forte oposição conflitiva entre nós/eles. Entretanto, o conflito não precisa ser aniquilador. As relações agonísticas são relações que mantém em aberto o conflito antagônico sem necessariamente levar à aniquilação. Isso porque, as relações agonísticas transformam as relações de inimigos (antagonismos) em relações de adversários. Essa transformação adversarial ocorre necessariamente pelo reconhecimento de um fundamento comum a todos. Todavia, não é possível identificar dentro da democracia radical a constatação de qual seria esse fundamento comum. A hipótese defendida é que a noção de precariedade formulada por Judith Butler é o fundamento dessas relações. Isso porque, a precariedade é uma condição generalizada que releva a própria necessidade de outras pessoas a fim de suprir as próprias faltas. Desse modo, a generalidade da precariedade estimula a oposição à violência dirigida a outros. Isso em vista, a precariedade pode ser entendida como o fundamento das relações agonísticas, haja vista que ela é a rubrica que possibilita a união das mais diversas posições políticas e identitárias.

Biografia do Autor

Albérico Araújo Sial Neto, Universidade Federal de Pernambuco

Possui especialização em Ciência Política. Mestrando em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco.

Emílio de Britto Negreiros, Universidade Federal de Pernambuco.

Universidade Federal de Pernambuco. Professor de Sociologia do Departamento de Sociologia.

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Publicado

10-08-2023

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Artigos