A regulação biotecnológica do sofrimento e do bem-estar subjetivo: o papel da psicofarmacologia na percepção dos psiquiatras
Schlagworte:
psiquiatria, medicalização, psicofármacos, sofrimento psíquico, felicidadeAbstract
Este artigo tem como foco as transformações nas formas de tratamento do sofrimento psíquico pela psiquiatria na atualidade, buscando entender qual o significado atribuído pelos psiquiatras à terapêutica psicofarmacológica. O estudo investiga também como estes profissionais percebem a construção de uma psiquiatria voltada não apenas para o tratamento de transtornos mentais, mas também para o alívio do sofrimento intrínseco à vida cotidiana, assim como, para a produção de estados de bem-estar subjetivo (felicidade). A análise tem como base os resultados de uma pesquisa exploratória realizada com psiquiatras que atuam na cidade de Recife. Os resultados apontam que a ascensão no consumo de psicofármacos tem suas origens na nova relação dos indivíduos com o bem-estar e o sofrimento, quando generaliza-se a exigência de aniquilar rapidamente, quimicamente, os problemas e disfunções que se tornam insuportáveis à medida em que a felicidade se impõe como modo de vida dominante. No contexto atual, quando a psiquiatria institucionalmente não mais necessita da dualidade saúde/doença para justificar sua prática, ela é instada a se dedicar também a potencializar os humores, com o uso do psicofármaco como dispositivo de controle e eliminação do sofrimento e na produção de estados mentais mais aprazíveis.
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