A batalha em torno do cais e o peso dos capitais: uma leitura bourdieusiana acerca da disputa dos possíveis destinos (e sentidos) do Cais José Estelita, no Recife.

Auteurs-es

DOI :

https://doi.org/10.51359/2317-5427.2024.261453

Mots-clés :

Cais José Estelita, classes sociais, capital cultural, campo de poder, fronteiras simbólicas

Résumé

Este artigo reflete sobre a mobilização política em torno do Cais José Estelita, sobretudo nas dificuldades da causa em agregar o engajamento de diferentes classes sociais. Nessa disputa, travada no Recife entre 2012 e 2019, diferentes agentes opuseram visões sobre os possíveis usos do Cais e seus sentidos, buscando impor como mais legítimos seus habitus de classe, que revelam formas específicas de apreciação do terreno. Na cidade, agentes com maior capital econômico pleitearam com outros com maior capital cultural não apenas o destino do Cais, mas a legitimação dos capitais mais importantes, de modo que o Estelita também se constituiu em espaço de disputa de classes e seus respectivos habitus, sendo este um dos possíveis entraves para que o movimento de “intelectuais e artistas” tivesse uma maior diversidade de classe.  O sucesso do empreendimento imobiliário sobre seus opositores, por sua vez, deu-se com a apropriação de muitas de suas alegações, isto é, com a domesticação da crítica, que é um dos mecanismos do capitalismo para se justificar e manter.

Biographie de l'auteur-e

Bernardo Fortes, Universidade Federal da Paraíba

Universidade Federal da Paraíba. Doutorando em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba (PPGS/UFPB) e mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco (PPGA/UFPE). Bolsista CAPES.

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Publié-e

2024-09-11