“O BRASIL AINDA É UM IMENSO HOSPITAL” : MOVIMENTOS HIGIENISTAS E ANTIVACINA NO BRASIL – DA INCIPIENTE REPÚBLICA À CONTEMPORANEIDADE

Auteurs

DOI :

https://doi.org/10.51359/2448-2307.2021.249745

Mots-clés :

Movimentos Antivacina, Programas de Imunização, Saúde Pública, Higienismo

Résumé

O artigo tematiza os movimentos antivacina em dois tempos da história brasileira: o início do século XX – a partir do episódio conhecido como Revolta da Vacina – e o início do século XXI, quando o país assiste à retomada dos discursos antivacina em face do cenário descortinado pela pandemia da Covid-19. A pergunta que orienta a pesquisa pode ser assim sintetizada: em que medida a desinformação e a condução autoritária de políticas públicas pode gerar, na população mais vulnerável, medos e receios diante das descobertas científicas voltadas à imunização em face de doenças? O texto divide-se em duas seções que correspondem, respectivamente, aos seus objetivos específicos: a primeira seção aborda o movimento antivacina ocorrido nos anos 1900, quando o país vivenciava a transição Império-República; a segunda parte do texto investiga os discursos antivacina no início deste século XXI, comparando-os àqueles adotados à época da incipiente República para averiguar em que medida se repristinam os mesmos temores sociais, diante de um cenário de profunda instabilidade e polarização política como o desencadeado pela pandemia da Covid-19. O método de abordagem empregado é o método fenomenológico.

Bibliographies de l'auteur

Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ

Doutor e Mestre em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal e Bacharel em Direito pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). Coordenador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito – Mestrado e Doutorado em Direitos Humanos – da UNIJUÍ. Professor do Curso de Graduação em Direito da UNIJUÍ. Pesquisador Gaúcho da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Líder do Grupo de Pesquisa Biopolítica e Direitos Humanos, certificado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Membro da Rede Brasileira de Pesquisa Jurídica em Direitos Humanos. Coordenador do Projeto PROCAD/CAPES “Rede de cooperação acadêmica e pesquisa: eficiência, efetividade e economicidade nas políticas de segurança pública com utilização de serviços de monitoração eletrônica e integração de bancos de dados”.

Joice Graciele Nielsson, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ

Professora-pesquisadora do Programa de Pós-Graduação - Mestrado e Doutorado em Direitos Humanos –, do Curso de Graduação em Direito na UNIJUI. Doutora em Direito (UNISINOS). Integrante do Grupo de Pesquisa Biopolítica e Direitos Humanos (CNPq).

Gisele Cristina Tertuliano, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS

Graduada em Enfermagem pela Universidade Luterana do Brasil (1997); Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Luterana do Brasil (2010); Mestra em Saúde Coletiva pela Universidade Luterana do Brasil (2006); Doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS); Coordenadora do Serviço de Vigilância Epidemiológica Secretaria Municipal de Cachoeirinha-RS.

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Publiée

2021-04-27