Da linguística cognitiva à ciência social: 30 anos após “metáforas da vida cotidiana”, Michiel Leezenberg
Resumo
Nos trinta anos desde o surgimento de “Metáforas da vida cotidiana”, a linguística cognitiva desenvolveu-se em um ramo de investigações autônomo e próspero. Contatos interdisciplinares, entretanto, estão restritos aos estudos literários e às ciências cognitivas, e dificilmente estendem-se em direção às ciências sociais. Isto é ainda mais surpreendente quando, na antropologia da década de 1970, a metáfora foi vista como uma noção-chave para o estudo mais geral do simbolismo. Esta contribuição explora o ponto de vista linguístico-cognitivo de fatores sociais e culturais. Lakoff e Johnson parecem ambivalentes no que diz respeito à relação entre cultura e cognição; mas partilham da crença, elaborada em detalhes por Gibbs e Turner (2002), de que fatores culturais podem ser explicados em termos de processos cognitivos. Desta perspectiva decorrem dificuldades metodológicas e filosóficas. Metodologicamente, esta perspectiva assume que fatores culturais podem ser reduzidos a processos cognitivos: filosoficamente, resume-se à ênfase cartesiana na experiência interna para explicar fenômenos externos. Existem esforços anti-cartesianos tanto na filosofia contemporânea quanto em uma grande corrente da filosofia do Século XVIII. Esta última, em particular, enfatizou a importância da incorporação/corporificação e da metáfora na cognição. Enquanto alternativa, esboçarei de maneira mais consistente uma abordagem semiótica orientada para as práticas, que procede das práticas linguísticas para os processos cognitivos ao invés do contrário. Esta abordagem admite as práticas como irredutivelmente públicas e normativas; nesta, as assim chamadas ideologias linguísticas (Silverstein 1979) possuem papel constitutivo tanto nas práticas linguísticas quanto na estrutura da linguagem. Esta alternativa é construída tanto com base em desenvolvimentos recentes da antropologia linguística quanto nos trabalhos de Peirce e Bakhtin. Ela sugere um olhar diferente na relação entre cognição, linguagem e prática social daquele sugerido pela linguística cognitiva.Referências
AARSLEFF, H. Philosophy of language. In HAAKONSSEN, K. (ed.) The Cambridge Companion to Eighteenth-Century Philosophy: Vol. 1 (451-495), Cambridge, UK: Cambridge University Press. 2006.
CAMERON, L. & DEIGMAN, A. The emergence of metaphor in discourse. Applied Linguistics, 27: 671-690. 2006.
DE CONDILLAC, E.B. Essay on the Origins of Human Knowledge, AARSLEFF, H. (tr.), Cambridge, UK: Cambridge University Press. 2001 [1746].
CROFT, W. Toward a social cognitive linguistics. In EVANS, V. & POURCEL, S. (eds.) New Directions in Cognitive Linguistics (395-420). Amsterdam: John Benjamins. 2009.
DAVIDSON, D. On the very idea of a conceptual scheme. In DAVIDSON, D., Inquiries into Truth and Interpretation (183-198). Oxford: Oxford University Press. 1984 [1973].
FERNANDEZ, J. (ed.). Beyond Metaphor: The Theory of Tropes in Anthropology. Stanford, CA,
USA: Stanford University Press. 1991.
GEERTZ, C. Deep play: Notes on the Balinese cockfight. In GEERTZ, C., The Interpretation of Cultures (412-453). New York: Basic Books. 1973.
GIBBS, Jr., R.W. Taking metaphor out of our heads and putting it into the cultural world. In
STEEN, G.S. & GIBBS, Jr., R.W. (eds.), Metaphor in Cognitive Linguistics. Amsterdam: John
Benjamins. 1999.
HANKS, W.F. Language and Communicative Practice. Boulder, CO, USA: Westview Press. 1996.
LAKOFF, G. & JOHNSON, M. Metaphors We Live By. Chicago: University of Chicago Press. 1980.
LAKOFF, G. & JOHNSON, M. Philosophy in the Flesh: The Embodied Mind and its Challenge to Western Thought. New York: Basic Books. 1999.
LAKOFF, G. September 11, 2001. In KLEIN, M. & McINTYRE, A. (eds.), September 11: Contexts and Consequences. Berkeley CA, USA: Copy Central. 2001.
LAKOFF, G. Women, Fire and Dangerous Things: What Categories Reveal about the Mind. Chicago: University of Chicago Press. 1987.
LEEZENBERG, M. Contexts of Metaphor: Current Research in the Semantics-Pragmatics Interface, Vol. 7. Amsterdam: Elsevier Science. 2001.
LEEZENBERG, M. Metaphor and metalanguage: Towards a social practice account of figurative speech. In Camp, E. (ed.), Baltic International Yearbook of Cognition, Logic, and Communication, Vol. 3: A Figure Of Speech (1-24), Kansas: New Prairie Press. 2008.
LOCKE, J. An Essay Concerning Human Understanding, NIDDITICH, P.H. (ed.). Cambridge, UK: Cambridge University Press. 1975 [1689].
PUTNAM, H. Reason, Truth, and History. Cambridge, UK: Cambridge University Press. 1981.
REDDY, M. The conduit metaphor: A case of frame conflict in our language about language. In ORTONY, A. (ed.) Metaphor & Thought. Cambridge, UK: Cambridge University Press. 1979.
SELLARS, W. Empiricism and the philosophy of mind. In FEIGL, H. & SCRIVEN, M. (eds.), Minnesota Studies in the Philosophy of Science. Minneapolis, MN, USA: University of Minnesota Press. 1956.
TURNER, M. Cognitive Dimensions of Social Science. New York: Oxford University Press. 2002.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2015 Erik Miletta Martins

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na Revista Investigações concordam com os seguintes termos:
Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0) que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (exemplo: depositar em repositório institucional ou publicar como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
Qualquer usuário tem direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.
Adaptar — remixar, transformar e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial.
O licenciante não pode revogar estes direitos desde que você respeite os termos da licença.
De acordo com os termos seguintes:
Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.
Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.