Macunaíma de Andrade, de Arlindo Daibert: da Antropofagia Modernista ao Açougue Brasil
DOI:
https://doi.org/10.51359/2675-7354.2022.254876Palavras-chave:
Arlindo Daibert, Antropofagia, desleitura, Macunaíma de Andrade, açougue BrasilResumo
Em A angústia da influência, Harold Bloom (1991) afirma que “os poetas fortes leem apenas a si mesmos”. Isto significa que, indelevelmente confinados em seus próprios horizontes de expectativas, estão fadados a ler continuamente a própria obra, dispersa numa incrível multiplicidade de livros e referências. Essa concepção reafirma a importância da leitura, mostrando como é possível, para o sujeito, encontrar nos outros as promessas das quais ele mesmo pode vir a ser uma realização. Desse conceito também resulta, provavelmente, a dedicatória ao leitor escrita por Jorge Luis Borges (1998, p. 13): “Se as páginas deste livro consentem algum verso feliz, perdoe-me o leitor a descortesia de tê-lo usurpado previamente. É trivial e fortuita a circunstância de que sejas tu o leitor destes exercícios e eu o redator deles”. Este artigo pretende comentar os percursos antropofágicos e intersemióticos do artista juiz-forano Arlindo Daibert (1952-1993), através de uma breve análise de três momentos de seu embate plástico contra precursores literários de peso: Lewis Carroll, Mário de Andrade e Guimarães Rosa, comentando os estágios de desleitura necessários à construção da obra híbrida e ensaística que ele compôs em vinte anos de trabalho e de constante e comprometida reflexão sobre o Brasil.
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