Modernismo “emparedado”: curadoria como embate de representações a partir do Nordeste
DOI:
https://doi.org/10.51359/2675-7354.2022.254641Palavras-chave:
curadoria, arte contemporânea, representações identitárias, modernismo, “Nordestinidade”Resumo
A curadoria de arte, por meio do evento exposição e do arranjo temporário de obras, pode questionar cânones e narrativas hegemônicas, estratégia essa empregada para tensionar e questionar processos que inventam e reproduzem representações identitárias, muitas delas vinculadas à “brasilidade” imaginada pelo modernismo paulista. Parte dessas representações foram produzidas a partir de determinadas alteridades relacionadas aos diferentes regionalismos, entre eles certa “nordestinidade”, as quais foram operadas sobretudo enquanto objeto de representação. Partindo de um caso emblemático de curadoria, no qual obras canônicas do nosso modernismo são confrontadas com produções contemporâneas produzidas por artistas negros e mestiços localizados fora do eixo hegemônico do Sudeste do país, propomos discutir como uma série de exposições realizadas por curadores nordestinos nas últimas duas décadas têm questionado representações identitárias sobre “nordestinidade” e seu uso enquanto construção de “autenticidade” para a “brasilidade”. Essas curadorias lidam com tensões referentes à distribuição de poder, que legitima certas narrativas em detrimento de outras, e com a dimensão ética da curadoria ao equacionar representação e representatividade.
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