Corpos (trans) fronteiriços: o delito do corpo
Abstract
A minha relação com as mulheres trans nasce como representante de direitos humanos
(ativista) acompanhado-as nas instituições de justiça para protocolar as denúncias, em
seguida como pesquisador acadêmico realizando um trabalho etnográfico e cartográfico na
região onde elas trabalham como garotas de programa. Desde 2019 venho realizando o
trabalho de campo para minha dissertação mestrado titulado de "Marca corpórea
identificadora da negação social: O suplício dos corpos Trans." Que será defendido em
setembro de 2021. As protagonistas da pesquisa percebem-se vítimas a partir do momento
que são violentadas, seja de forma simbólica ou física. A truculência e ostensividade dos
seguranças particulares são despejados aos corpos tran esses seguranças na sua maioria
policiais militares que prestam serviço a Associação de Moradores do Bairro Butantã, com
finalidade de retirá-las de seus pontos de trabalho, em ritmo de força tarefa contando com
apoio da guarda municipal, detran e polícia civil e a mídia.
Na Avenida Lineu de Paula Machado, ao lado do Jockey Club - imediações dos bairros Morumbi, Butantã e a emblemática estrutura do Palácio do Governo do Estado de São Paulo - residem pessoas de alto poder aquisitivo. São empresários, advogados, juízes, artistas,
políticos e apresentadores de TV e rádio dentre outras personalidades consideradas legítimas
para o “sustento” e a “ordem” da cidade de São Paulo. Estas pessoas se camuflam entre os
grandes muros dos casarões e mansões e ruas pós-projetadas que evitam a intersecção dos
corpos, em conjunto com o sistema eletrônico de monitoramento para o controle e o suplício
das travestis e transexuais. Convém destacar que a Avenida Lineu de Paula Machado e a
Praça Dr. João Adhemar de Almeida Prado são espaços públicos que levam o nome de netos
de capitões-mor. A designação de capitão-mor era uma patente para cada um dos oficiais
militares. Ficando cada um responsável por terras que não tivesse senhor ou algum
representante do rei. tem esse nome em homenagem ao fazendeiro e industrial brasileiro. Tal referência é uma retribuição à contribuição econômica realizada no passado que repercute no imaginário atual. A praça abriga uma intervenção artística - Mercado - de autoria de Eduardo Srur: um enorme carrinho de compras de supermercado feito de puro ferro, com aproximadamente dez metros de altura. O carrinho do mercado é uma intervenção artística e atrás dele o Jockey Club, estrutura emblemática da cidade de São Paulo. Dois símbolos visuais de consumo e representação de poder. Visualidades que se atravessam na Avenida Lineu de Paula Machado. O nome do dono da praça e da avenida simboliza a capitalização de quem participou da construção da economia do país. Simboliza uma época que perpassa as práticas das relações mercantis e as relações de poder que as sustentavam. E nas calçadas e nas praças corpos de mulheres trans (travestis e transxuais) que sobrevivem da prostituição, de um consumo desenfreado e clandestino. A vigilância aos corpos trans é feita por policiais militares do Estado de São Paulo fora do horário de trabalho. Os “seguranças particulares” são onerados pela Associação de Moradores do Butantã.
PALAVRAS CHAVE: corpo. mulheres trans. suplício. violência policial. consumo.
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