É POSSÍVEL CONSENTIR NO MERCADO DO SEXO? o díficil diálogo entre feministas e trabalhadoras do sexo

Auteurs

  • Fernanda Maria Vieira Ribeiro Universidade Estadual Vale do Acaraú

Résumé

As negociações ocorridas para a elaboração do Protocolo de Palermo[1] despertou um debate há algum tempo secundário nas agendas políticas: a preocupação com a regulamentação ou proibição do trabalho sexual. Nesse contexto, de um lado, as feministas radicais que consideram a prostituição uma violação de direitos, independente de saber se é forçado ou voluntário, tiveram um impacto substancial sobre o desenvolvimento e a adoção de instrumentos e legislação anti-tráfico em vários países e no nível internacional. Do outro lado, as feministas ligadas à Human Rights Caucus[2], que considera a prostituição um trabalho legítimo, argumentaram que nem toda prostituição é opressiva e forçada, e que mulheres maiores de idade podem consentir e livremente escolher trabalhar no mercado do sexo. Questões sobre a violência sexual, a opressão e dominação das mulheres, o controle do Estado, organizações criminosas, empoderamento e autonomia feminina, e o consentimento e a agência da mulher no mercado do sexo foram debatidas e utilizadas como argumento de defesa ou combate ao trabalho sexual. Proponho nesse artigo esboçar as convergências, contradições e divisões entre segmentos feministas sobre a proibição ou regulamentação do trabalho sexual.

[1] Em dezembro de 2000, mais de 80 países assinaram o “Protocolo para Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, especialmente mulheres e crianças” (Protocolo sobre Tráfico da ONU) em Palermo, Itália.

[2] Human Rights Caucus é uma coalizão de diversas organizações de direitos, tanto relacionados ao desenvolvimento, meio-ambiente, sindical, como ao feminismo e direitos humanos a nível mundial.

 

Biographie de l'auteur

Fernanda Maria Vieira Ribeiro, Universidade Estadual Vale do Acaraú

Professora substituta da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Estado do Ceará. Mestra em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Integrante do Grupo de Pesquisa Família, Gênero e Sexualidade (FAGES/UFPE). Email: fernandamvribeiro@gmail.com

Références

AGUSTIN, Laura (2005). La industria del sexo, los migrantes y la familia europea.

Cadernos Pagu (25), julho-dezembro de 2005, pp.107-128.

BARRY, Kathleen (1995). The prostitution of sexuality. New York: New York University Press.

BRENNAN, Denise (2010). Sex tourism and sex workers’ aspirations. In: WEITZER,Ronald (ed.). Sex for sale: prostitution, pornography and the sex industry. 2nd ed. New York and London: Routledge.

CHAPKIS, Wendy (1997). Live sex acts: women performing erotic labor. Londres, Casell.

DOEZEMA, Jo (2005). Now you see her, now you don’t: Sex Workers at the UN

Trafficking Protocol Negotiation. Social Legal Studies, vol.14, pp. 61-89.

JEFFREYS, Sheila (1997) The Idea of Prostitution. Melbourne: Spinifex.

KEMPADOO, Kamala (1999). Slavery or work? Reconceptualizing third world

prostitution. Positions, vol.7, pp. 225-237.

MACKINNON, Catharine A. (1989). Toward a Feminist Theory of the State. Cambridge: Harvard University Press.

O’CONNELL DAVIDSON, Julia (2002). The rights and wrongs of prostitution. Hypatia, vol. 17, no. 2, Spring 2002, pp. 84-98.

___________ (2008). If no means no, does yes mean yes? Consenting to research

intimacies. History of the Human Sciences Vol. 21 No. 4, pp. 49-67. SAGE Publications.

PATEMAN, Carole (1983). Defending Prostitution: Charges Against Ericsson. Ethics, Vol. 93, No. 3, Apr., 1983, pp. 561-565.

PISCITELLI, Adriana G. (2000). Gênero e racialização no contexto de relações

transnacionais: comentários a partir de uma leitura das relações presentes no turismo sexual em Fortaleza (Ceará, Brasil). Simpósio internacional: o desafio da diferença, articulando gênero, raça e classe, vol. 1, Salvador, BA, Brasil.

__________ (2005). El tráfico del deseo: interseccionalidades no marco do turismo sexual no Nordeste do Brasil. Quaderns de l'Institut Catalé d'Antropologia, BARCELONA, v. 2004/b, p. 01-15, 2005.

__________ (2008). Entre as “máfias” e a “ajuda”: a construção de conhecimento sobre tráfico de pessoas. Cadernos Pagu, v.31, julho-dezembro de 2008, pp.29-63.

PENG, Yenwen (2005). “Of course they claim they were coerced”: On voluntary

prostitution, contingent consent and the modified whore stigma. Journal of International Women’s Studies, vol.7, pp. 17-35.

SCOTT, Parry; RIBEIRO, Fernanda M. Vieira (2016) Mobilização, desmobilização e

discursos sobre sexo e gênero na Copa do Mundo 2014. (No Prelo)

SULLIVAN, Barbara (s.d.). Rethinking prostitution and “consent”. University of

Queensland.

SUTHERLAND, Kate (2004). Work, sex and sex-work: competing feminist discourses on the international sex trade. Osgoode Hall Law Journal, vol.42, n1.

WEITZER, Ronald (ed.) (2010). Sex for sale: prostitution, pornography and the sex

industry. 2nd ed. New York and London: Routledge.

Téléchargements

Publiée

2016-04-23