“MARACATU É UM BRINQUEDO PESADO!”: NOTAS SOBRE AS DIMENSÕES DA “CULTURA DO BAQUE SOLTO”

Auteurs

  • Leonardo Leal Esteves Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGA-UFPE) e Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Sergipe (DCS-UFS)

Résumé

Neste artigo aponto alguns aspectos relacionados aos sentidos e à dinâmica dos maracatus de baque solto na produção de sua “brincadeira”. Apesar do poder público se relacionar com os maracatuzeiros por meio de uma lógica cada vez mais “burocrática” no sentido weberiano, o maracatu - como afirmam seus representantes - é um “brinquedo pesado!”. Suas práticas e representações parecem estar mais próximas a uma dinâmica que envolve ao mesmo tempo brincadeira, sacrifício, dádiva, ritual e espetáculo, ao que os próprios maracatuzeiros chamam genericamente de “cultura do baque solto”. Neste sentido, as exigências em torno da “adequação” e “formalização” desta “cultura” para que seus representantes possam ter acesso às ações de incentivo e apoio e fomento do poder público, parecem ser conflitantes com toda a “carga” de seu universo simbólico e experiencial.

Biographie de l'auteur

Leonardo Leal Esteves, Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGA-UFPE) e Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Sergipe (DCS-UFS)

É professor temporário do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Sergipe (DCS-UFS). Doutor em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGA-UFPE) e Mestre em Antropologia por esta mesma instituição. Atuou como Coordenador do Núcleo de Pesquisa e Documentação do Paço do Frevo. Fez parte do quadro permanente da Secretaria de Patrimônio e Cultura de Olinda, como Analista em Cultura. Foi colaborador da Associação Respeita Januário em atividades de pesquisa na área de patrimônio imaterial para o processo de inscrição de bens no Inventário Nacional de Referências Culturais junto ao IPHAN. Tem experiência em políticas públicas para o setor da cultura e em atividades relacionadas à pesquisa, avaliação e orientação acadêmica nas áreas de antropologia, cultura popular, turismo e patrimônio. Foi vencedor do Prêmio Palmares de Monografias e Dissertação da Fundação Cultural Palmares com a dissertação "Viradas e Marcações: a participação de pessoas de classe média nos grupos de maracatu de baque virado no Recife". É membro da Associação Brasileira de Antropólogos - ABA.

Références

AMORIM, Maria Alice. (Ed.) 2013. Maracatu de Baque Solto : Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil – Dossiê de Candidatura. Recife : FUNDARPE ; Brasília : IPHAN, Vol.2.

ASSIS, Maria Elisabete A. 1996. Cruzeiro do Forte: A Brincadeira e o Jogo de Identidade em um Maracatu Rural. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

BAKHTIN, Mikhail. 2002. A cultura popular na Idade Média e Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, Anablume.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. 2007. “Burocracia Pública e Classes Dirigentes no Brasil” In: Revista de Sociologia e Política. Curitiba: 28:9 – 30.

BURKE, P. 1998. Cultura Popular na Idade Moderna. Europa, 1500 – 1800. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras.

CALABRE, Lia. 2009. Políticas Culturais no Brasil: dos anos 1930 ao século XXI. Rio de Janeiro: FGV.

CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro. 2014. “Introdução” In. CAVALCANTI, Maria Laura (org.) Ritual e Performance: 4 estudos clássicos. Rio de Janeiro: 7 Letras: 9 – 19.

CHAVES, Suiá Omim A. C. 2008. Carnaval em Terras de Caboclo: uma etnografia sobre maracatu de baque solto. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

CLASTRES, Pierre. 2014. Arqueologia da violência – pesquisas de antropologia política: Pierre Clastres. 3ed. São Paulo: Cosac Naify.

____. 2012. A Sociedade Contra o Estado: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac Naify.

COSTA, Leonardo; MELLO, Ugo; FONTES Juliano, Viviane. 2010. “Avaliação de área de formação em organização da cultura: apenas ações de uma política estruturada?” In RUBIM, Antônio A.C. (Org) Políticas Culturais no governo Lula. Salvador: EDUFBA: 67 – 85.

CUNHA, Manuela Carneiro da. 2009. Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo: Cosac Naify.

DA MATTA, Roberto. 1997. Carnavais, Malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco.

DOUGLAS, Mary. 1991. Pureza e Perigo: ensaio sobre a noção de poluição e tabu. Lisboa: Edições 70.

ELIAS, Nobert. 1997. O processo civilizador: Uma História dos Costumes. v.1 Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

FRASER, Nancy. 2006. “Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça numa era ‘pós-socialista’” In Cadernos de Campo, São Paulo, n. 14/15: 231-239.

GEERTZ, Clifford. 2001. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001

KUPER, Adam. 2002. Cultura: a visão dos antropólogos. Bauru: EDUSC.

LEITE, Ana Flávia Cabral. 2014. Organizações Sociais da Cultura - um modelo de sucesso: O caso da Fundação OSESP. São Paulo: Editora Pau-Brasil.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 2003. Antropologia Estrutural. 6 ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.

MAUSS, Marcel. 2005. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify.

____. 2013. Sobre o Sacrifício: Marcel Mauss e Henri Hubert. São Paulo: Cosac Naify.

MEDEIROS, Roseana B. 2005. Maracatu Rural: luta de classes ou espetáculo? Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife.

MINISTÉRIO DA CULTURA 2012. As metas do Plano Nacional de Cultura. São Paulo: Instituto Vila Pública; Brasília: MinC.

NASCIMENTO, Mariana Cunha M. 2005. João, Manoel, Maciel Salustiano: três gerações de artistas populares recriando os folguedos de Pernambuco. Recife: Associação Reviva.

RIBEIRO, Mário. 2010. Trombones, Tambores, Repiques e Ganzás: A festa das agremiações carnavalescas nas ruas do Recife (1930 – 1945). Dissertação (Mestrado em História Social da Cultura Regional) Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.

RUBIM, Antônio A. C. 2007. “Políticas culturais no Brasil: tristes tradições, enormes desafios” In RUBIM, Antônio A. C.; BARBALHO, Alexandre (Orgs.) Políticas Culturais no Brasil. Salvador: EDUFBA:11 – 36.

_____ . 2010. “Políticas culturais no Governo Lula” In RUBIM, Antônio A. C. (Org.) Políticas Culturais no Governo Lula. Salvador. EDUFBA:9 – 24.

RUBIM, Antônio A. C. 2015. “Políticas culturais no primeiro governo Dilma: patamar rebaixado”. In RUBIM, Antônio A. C.; BARBALHO, Alexandre; CALABRE, Lia (org.) Políticas culturais no governo Dilma. Salvador: EDUFBA:11 – 31.

SAHLINS, Marshall. 2004. Cultura na Prática. Rio de Janeiro: UFRJ.

SALLES, Sandro Guimarães de. 2010. À sombra da Jurema Encantada: Mestres juremeiros na Umbanda de Alhandra. Recife: Universitária da UFPE.

SILVA, Severino Vicente da. 2012. Festa de Caboclo. 2ª. ed., Olinda: Associação Reviva.

TURNER, Victor W. 2013. O processo ritual: estrutura e antiestrutura. 2. Ed. Petrópolis: Vozes.

VIEIRA, Sumaia; NOGUEIRA, Maria Aparecida. 2006. Cambinda do Cumbe. Recife: Gráfica JB.

_____. 2004. “Eu te empresto e tu me devolve” a JUREMA no “maracatu (baque solto / rural) porque pode ser” In 24 Reunião Brasileira de Antropologia. Recife: (Anais).

WEBER, Max. 2013. Ensaios de Sociologia. 5Ed. Rio de Janeiro: LTC.

Téléchargements

Publiée

2017-01-02