Heródoto de mentirinha: Varnhagen, a escrita da história da Guerra Holandesa e seu diálogo com as obras dos séculos XVII, XVIII e XIX
DOI:
https://doi.org/10.22264/clio.issn2525-5649.2018.36.2.03Palavras-chave:
Varnhagen, Guerra holandesa, História da historiografia, PolíticaResumo
F. A. de Varnhagen conquistou, ao longo dos séculos XX e XXI, os títulos de “Heródoto Brasileiro” e “Fundador da História do Brasil”, pelo celebrado pioneirismo científico e rigor crítico de seus livros, que teriam introduzido marcada ruptura com a historiografia precedente. O presente artigo, todavia, procura demonstrar que, ao menos no tocante a sua história da Guerra Holandesa (1624-1654), Varnhagen, ocupado no Segundo Reinado (1840-1889) com a construção da identidade nacional, escreveu sob influência do paradigma historiográfico dos séculos XVII e XVIII. Sua obra, assim, não traz a cisão, mas a culminância de uma narratio iniciada no curso da própria guerra, com autores como Duarte de Albuquerque Coelho e Manoel Calado, os quais Varnhagen se desafiava a superar. Para prová-lo, examinam-se sua Historia Geral do Brazil e sobretudo a Historia das lutas com os Hollandezes no Brazil, mapeando o diálogo travado com a então bicentenária bibliografia daquele conflito.
Referências
ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial. São Paulo: Publifolha, 2000 [1907].
ABREU, Capistrano de. Ensaios e estudos (Critica e historia) – 1ª série. Rio de Janeirio: Livraria Briguiet & Sociedade Capistrano de Abreu, 1931.
ALBERTI, Leon Battista. Sobre a família. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1970.
ARAÚJO, Ricardo Benzaquen de. Ronda noturna: narrativa, crítica e verdade em Capistrano de Abreu. Rio de Janeiro: Rev. Estudos Históricos, n. 1, 1988, pp. 28-54.
ARIÈS, Philippe. O tempo da história. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1989.
CALADO, Manuel. O valeroso Lucideno, e Triumpho da liberdade. Lisboa: Officina Craesbeeckiana, 1648.
CARBONELL, Charles-Olivier. L’histoire dite positiviste em France. Romantisme: 1978, n. 21-22, “Les positivismes”, pp. 173-185.
CLEMENTINO, Kleber. Historiografia e política nas narrativas lusocastelhanas seiscentistas da Guerra Holandesa no Atlântico Sul (1625-1698). Recife: Tese de doutoramento defendida no PPG em História da Universidade Federal de Pernambuco, 2016.
CURTIUS, E. R. European literature and the latin Middle Ages. Princeton: Univ. Press, 1952.
FONSECA, Antônio José Vitoriano Borges da. Nobiliarchia Pernambucana. 4 vols. Rio de Janeiro: Anais da Bibliotheca Nacional, v. XLVII, 1925.
FREYRE, Francisco de Brito. Nova Lusitania, historia da guerra brasilica. Lisboa: Officina de Joam Galram, 1675.
GAMA, José Bernardo Fernandes. Memorias historicas da provincia de Pernambuco. 4 vols. Recife: na Typographia de M. F. de Faria, 1844-1848.
GRAFTON, Anthony. What was History? The art of History in early modern Europe. Florença: Leo S. Olschki ed., 2001.
HOLMES, George. A Europa na Idade Média (1320-1450). Lisboa: Ed. Presença, 1984.
JABOATÃO, Antônio de Santa Maria. Novo Orbe Serafico Brasilico, ou Chronica dos frades menaores da Provincia do Brasil. 2 vols. Rio de Janeiro: Typ. Brasiliense, 1858.
JESUS, Raphael de. Castrioto Lusitano: parte I. Entrepresa, e restauraçaõ de Pernambuco; & das capitanias Confinantes. Varios, e bellicos successos entre portuguezes, e belgas, acontecidos pello discurso de vinte e quatro anos, e tirados de notícias, relações, e memorias certas. Lisboa: Na impressão de Antônio Craesbeeck de Mello Impressor de sua Alteza, 1679.
KAGAN, Richard. Los cronistas y la corona: la política de la História en España en las Edades Medya y Moderna. Madri: Centro de Estudios Europa Hispánica, 2010.
LOPES, Marco Antônio. Ars Historica no Antigo Regime: a História antes da Historiografia. Varia Historia, Belo Horizonte, vol. 24, n. 40, jul-dez de 2008, pp. 633-656.
MACHADO, Diogo Barbosa. Fastos politicos, e militares da antigua, e nova Lusitania, em que se descrevem as acçoens memoráveis, que na paz, e na guerra obrarão os Portuguezes nas quatro partes do mundo. Lisboa: na Officina de Ignacio Rodrigues, 1745.
MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro veio: o imaginário da restauração pernambucana. São Paulo, Alameda, 2008.
MELLO, J. A. Gonsalves de. Estudos pernambucanos: crítica e problemas de algumas fontes da história de Pernambuco. Recife: Fundarpe, 1986 [1960].
MELLO, J. A. Gonsalves de. Frei Manuel Calado do Salvador: religioso da Ordem de São Paulo, pregador apostólico por sua santidade, cronista da Restauração. Recife: Universidade do Recife, 1954.
MENEZES, Luís de. Historia de Portugal Restaurado. Tomo 1. Lisboa: Oficina de João Galrão, 1679.
MOTA, Isabel Ferreira da. A Academia Real da História: os intelectuais, o poder cultural e o poder monárquico no século XVIII. Coimbra: Edições Minerva, 2003.
ODÁLIA, Nilo. As formas do mesmo: ensaios sobre o pensamento historiográfico de Varnhagen e Oliveira Vianna. São Paulo: Fundação Ed. Da UNESP, 1997.
REDE, Marcelo. “A construção do passado nas crônicas assiro-babilônicas”. In: PIRES, Francisco Murari (Org.). Antigos e modernos: diálogos sobre (a escrita da) História. São Paulo: Alameda, 2009.
REIS, José C. Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2006.
RODRIGUES, José Honório. Varnhagen: o primeiro mestre da historiografia brasileira. Rio de Janeiro: RIHGB, v. 275, abr/jun 1967, pp. 170-196.
SOUZA, George F. Cabral de. Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano: breve história ilustrada. Recife, IAHGP, 2010.
VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Historia das lutas com os hollandezes no Brazil. De 1624 a 1654. Pelo autor da Historia Geral do Brasil, barão de Porto Seguro. Nova edição melhorada e acrescentada. Lisboa: Typographia de Castro Irmão, 1872.
VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Historia Geral do Brazil. 2 vols. Madri: Imprensa de V. de Dominguez; 1854-1857.
WEHLING, Arno. Estado, História, Memória: Varnhagen e a construção da identidade nacional. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Ao submeter um artigo à CLIO: Revista de Pesquisa Histórica, o autor garante que o artigo é original, e que não contém declarações caluniosas ou difamatórias, que não infringe quaisquer direitos de propriedade intelectual, comercial ou industrial de terceiros, bem como ressarcir prontamente a Universidade Federal de Pernambuco/CLIO: Revista de Pesquisa Histórica por quaisquer indenizações, prejuízos ou despesas que possam ocorrer em razão da quebra destas garantias.
O autor mantém os direitos autorais sobre o artigo, autorizando, no entanto, a Universidade Federal de Pernambuco/CLIO: Revista de Pesquisa Histórica, a utilizar o referido artigo, no todo ou em parte, editado ou integral, em língua portuguesa ou qualquer outro idioma, em versão impressa, ou qualquer outro meio de divulgação, ficando assim, a referida instituição isenta de qualquer pagamento de direitos autorais ao autor.