A "anarchia das classes baixas":

radicalismo popular nas lutas da independência no Ceará

Autores

DOI:

https://doi.org/10.51359/2525-5649.2024.263600

Palavras-chave:

radicalismo popular, independência, ceará

Resumo

Este artigo discute a participação popular nas lutas da independência no Ceará, abordando uma plebe heterogênea, de condição livre ou escravizada, composta de indígenas, afrodescendentes e mestiços. Entre as agitações da Revolução do Porto e a Confederação do Equador, procura-se analisar a atuação das camadas subalternas da sociedade, como nos protestos dos cerca-igrejas no Cariri (1821), nos motins indígenas de Viçosa e Maranguape (1822), numa tentativa de levante de negros forros e cativos em Fortaleza (1823) e ainda quando “cabras em armas” se revoltaram contra o recrutamento forçado no Crato durante a mobilização de tropas enviadas ao Piauí e ao Maranhão (1823). O radicalismo variou de uma postura anticonstitucional, em defesa da autoridade do rei e da religião, até um antilusitanismo extremo que desafiou mesmo os mais exaltados projetos patrióticos das classes senhoriais. Mas a todo o momento expressou-se a resistência contra o que se via como a ameaça de escravização.

Biografia do Autor

Tyrone Apollo Pontes Candido, Universidade Estadual do Ceará

Doutor em História pela Universidade Federal do Ceará (1999). É Professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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Publicado

19-12-2024