Revisitando a Revolução de 1817

tempos e narrativas da construção de um fato histórico

Autores

DOI:

https://doi.org/10.51359/2525-5649.2024.264109

Palavras-chave:

revolução de 1817, história da historiografia da independência, escrita da história, narrativa histórica

Resumo

Neste artigo, ressalta-se o caráter imperativo da concepção do fato histórico da Revolução de 1817 como fato de opinião, desde a documentação produzida no e pelo próprio evento até as várias interpretações inscritas nas narrativas produzidas pela historiografia, do século XIX até hoje. Com essa abordagem, pretende-se sublinhar o aspecto teórico fundamental de que o adjetivo “histórico” aposto ao substantivo “fato” refere-se não somente à sua potência de inscrição na memória coletiva como fato comemorável, mas “histórico” também no sentido de resultado de um embate de interpretações e usos do passado levados a efeito ao longo do tempo por sucessivas gerações. Nosso argumento é o de que, conscientes disso ou não, as interpretações correntes de Dezessete são construídas a partir de duas posições político-ideológicas antagônicas ante o movimento fundadas já no século XIX: a dos apologistas e a dos contrários ao movimento.

Biografia do Autor

Jurandir Malerba, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Possui graduação em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é Professor Titular Livre da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Referências

Adam Schaff, História e verdade, São Paulo: Martins Fontes, 1987.

Arno Wehling, Estado, história, memória: Varnhagen e a construção da identidade nacional, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

Arthur C. Danto, Analytical Philosophy of History, Cambridge: Cambridge University Press, 1965.

Barbosa Lima Sobrinho, Pernambuco: da Independência à Confederação do Equador, Recife: Prefeitura da Cidade do Recife, 1998.

Breno Gontijo de Andrade, “Duzentos anos de 1817: caminhos historiográficos e algumas discussões sobre a Revolução Pernambucana”, Sæculum - Revista de História, v. 36, n. 36, (2018) pp. 101-114.

Carlos Guilherme Mota, Nordeste 1817: estruturas e argumentos, São Paulo: Perspectiva, 1972.

Charles Mozaré, A lógica histórica, São Paulo: Difel, 1970.

Chris Lorenz, “Historical Knowledge and Historical Reality: a Plea for ‘Internal Realism’”, History and Theory, v. 33 (1994), pp. 297-327.

Cristopher Lloyd, The Structures of History, Oxford: Blackwell, 1993.

Denis Antônio de Mendonça Bernardes, “O Patriotismo Constitucional: Pernambuco (1820-1822)”, Tese (Doutorado em História), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

David Carr, “A narrativa e o mundo real: um argumento a favor da continuidade”, in Jurandir Malerba (org.), História & Narrativa: a ciência e a arte da escrita histórica, Petrópolis: Vozes, 2016, pp. 229-248.

Evaldo Cabral de Mello, A outra Independência: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824, São Paulo: Editora 34, 2004.

Evaldo Cabral de Mello, “Dezessete: a Maçonaria dividida”, Topoi, n. 3, v. 4 (2002), pp. 9-37.

Francisco A. Varnhagen, História Geral do Brasil antes da sua separação e independência de Portugal (Vol. V), São Paulo: Melhoramentos, 1956.

Francisco Muniz Tavares, História da Revolução de Pernambuco em 1817, Recife: Imprensa Nacional, 1917.

Francisco Iglésias, Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. Rio de Janeiro-Belo Horizonte: Nova Fronteira/UFMG, 2000.

Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão, A Revolução de 1817 e a história do Brasil: um estudo de história diplomática, Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009.

Iztván Jancsó, “A Construção dos Estados Nacionais na América Latina: Apontamentos para o Estudo do Império como Projeto”, in Tamás Szmrecsányi & José Roberto do Amaral Lapa (orgs.), História Econômica da Independência e do Império, São Paulo, Hucitec, 1996, pp. 3-26.

João Manuel Pereira da Silva, História da fundação do Império Brasileiro (Tomo IV), Rio de Janeiro: Garnier, 1865.

João Paulo Pimenta, “A independência do Brasil como uma revolução: história e atualidade de um tema clássico”, História da Historiografia, Ouro Preto, v. 2, n. 3 (2009), pp. 53-82.

Joaquim Dias Martins, Os mártires pernambucanos (vítimas da liberdade nas duas revoluções ensaiadas em 1710 e 1817), Recife: Lemos e Silva, 1853.

José Carlos Reis, “Anos 1850: Varnhagen, o elogio da colonização portuguesa”, in As identidades do Brasil, Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1999, pp. 23-50.

José Domingues Codeceira, “Exposição de fatos históricos que comprovam a prioridade de Pernambuco na Independência e liberdade nacional, Apresentada em sessão extraordinária no IAGP em 6 de Fevereiro de 1890”, Revista do IHGB, Tomo LIII, parte 1 (1890), pp. 327-342.

José Honório Rodrigues, Explicação, in Documentos Históricos. Revolução de 1817 (Vol. CI), Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, Divisão de Obras Raras e Publicações, 1953, pp. IV-V.

José Honório Rodrigues, Independência: revolução e contra-revolução, Rio de Janeiro, Editora Francisco Alves, 1975-1976, 5 Vols.

José Inácio de Abreu e Lima, Compêndio da História do Brasil, Rio de Janeiro: Laemmert, 1843.

José Honório Rodrigues, “Varrnhagen: o primeiro mestre da historiografia brasileira”, in História combatente, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, pp. 191-225.

Jurandir Malerba, “Memoria: usos y abusos”, in Teoría, Historia & Ciencias Sociales. Ensayos Críticos, Rosário, Ar: Prohistoria Ediciones, 2013, pp. 29-42.

Jurandir Malerba, “Esboço crítico da recente historiografia sobre a independência do Brasil (c. 1980-2002)”, in Jurandir Malerba, A Independência brasileira: novas dimensões, Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, pp. 19-52.

Leon Goldstein, The What and Why of History. Philosohical Essays, New York: Brill, 1996.

Leslie Bethell, “The Independence of Brazil”, in Leslie Bethell (org.), The Cambridge History of Latin America (Vol. 3), Cambridge: Cambridge University Press, 1985, pp. 181-186.

Lúcia Maria Paschoal Guimarães, “Entre a Monarquia e a República: a Revolução Pernambucana de 1817 e suas representações no IHGB”, in M. L. Lessa; S. C. P. B. Fonseca (orgs.), Imprensa, pensamento político e historiografia (1822-1889), Rio de Janeiro: EdUerj, 2008, pp. 151-164.

Luiz Carlos Villalta, “Pernambuco, 1817, ‘encruzilhada de desencontros’ do Império luso-brasileiro. Notas sobre as ideias de pátria, país e nação”, Revista USP, n. 58 (2003), pp. 58-91.

Luiz Geraldo Silva, “Um projeto para a nação. Tensões e intenções políticas nas ‘províncias do Norte’ (1817-1824)”, Revista de História, n. 158 (2008), pp. 199-216.

Manuel de Oliveira Lima, O movimento da independência, São Paulo: Melhoramentos, 1922.

Manuel de Oliveira Lima, D. João VI no Brasil, Rio de Janeiro: Topbooks, 2006.

Maria de Lourdes Viana Lyra, A Utopia do Poderoso Império, Rio de Janeiro: Sette Letras, 1994.

Maximiano Lopes Machado, “Introdução”, in Francisco Muniz Tavares, História da Revolução de Pernambuco em 1817, Recife: Tipografia Industrial, 1884.

Nelson Boeira, “A filosofia analítica e o papel da narrativa no conhecimento histórico”, in Jurandir Malerba (org.), História & Narrativa: a ciência e a arte da escrita, Petrópolis, RJ: Vozes, 2016, pp. 105-116.

Nilo Odália, As formas do mesmo: ensaios sobre o pensamento historiográfico de Varnhagen e Oliveira Vianna, São Paulo: Editora da Unesp, 1997.

Oliveira Lima, “Prefácio”, in Louis-François de Tollenare, Notas dominicais tomadas durante uma residência em Portugal e no Brasil nos anos de 1816, 1817 e 1818 (Parte Relativa a Pernambuco) Recife: Jornal do Recife, 1905.

Paul Ricoeur, Tempo e narrativa (Vol. 3.). Campinas: Papirus, 1996.

Paul Schroeder, “Historical Reality vs. Neo-Realist Theory”, International Security, v. 19, n. 1 (1994), pp. 108-148.

Roderick Barman, Brazil: The Forging of a Nation, 1798-1852, Stanford, Stanford University Press, 1988.

Thamara de Oliveira Rodrigues, “A Revolução Pernambucana e as disputas historiográficas: Abreu e Lima e Francisco Adolfo de Varnhagen”, História e Cultura, Franca, v. 6, n. 1 (2017), pp. 289-308.

Temístocles Cezar, “Varnhagen em movimento: breve antologia de uma existência”, Topoi, v. 8, n. 15 (2007), pp. 159-207.

Temístocles Cezar, “Em nome do pai, mas não do patriarca: ensaio sobre os limites da imparcialidade na obra de Varnhagen”, História (São Paulo), v. 24 (2005), pp. 207-240.

Temístocles Cezar, “Varnhagen, Francisco Adolfo de”, in Sérgio Campos Matos (org.), Dicionário de Historiadores Portugueses. Da Academia Real das Ciências ao final do Estado Novo, Lisboa, 2013, pp. 1-11.

Valdei Lopes Araújo, “Historiografia, nação e os regimes de autonomia na vida letrada no Império do Brasil”, Varia História, Belo Horizonte, v. 31, n. 56 (2015), pp. 365-400.

William H. Dray, “Narrative and Historical Realism”, in Geoffrey Robert (org.), The History and Narrative Reader, New York: Routeledge, 2001.

Wolfgang Von Leyden, “Categories of Historical Understanding”, History and Theory, v. 23 (1984), pp. 53-77.

Downloads

Publicado

19-12-2024