Revisitando a Revolução de 1817
tempos e narrativas da construção de um fato histórico
DOI:
https://doi.org/10.51359/2525-5649.2024.264109Palavras-chave:
revolução de 1817, história da historiografia da independência, escrita da história, narrativa históricaResumo
Neste artigo, ressalta-se o caráter imperativo da concepção do fato histórico da Revolução de 1817 como fato de opinião, desde a documentação produzida no e pelo próprio evento até as várias interpretações inscritas nas narrativas produzidas pela historiografia, do século XIX até hoje. Com essa abordagem, pretende-se sublinhar o aspecto teórico fundamental de que o adjetivo “histórico” aposto ao substantivo “fato” refere-se não somente à sua potência de inscrição na memória coletiva como fato comemorável, mas “histórico” também no sentido de resultado de um embate de interpretações e usos do passado levados a efeito ao longo do tempo por sucessivas gerações. Nosso argumento é o de que, conscientes disso ou não, as interpretações correntes de Dezessete são construídas a partir de duas posições político-ideológicas antagônicas ante o movimento fundadas já no século XIX: a dos apologistas e a dos contrários ao movimento.
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