Brechas decoloniais e interculturalidade: por uma universidade “outra”
DOI :
https://doi.org/10.51359/2238-6211.2023.260665Mots-clés :
sociabilidade, educação superior, interculturalidadeRésumé
Neste ensaio, a abordagem decolonial e o conceito da interculturalidade são centrais para um pensamento crítico “outro” e por buscar construir novos espaços democráticos de convivência ligado a um projeto social, cultural, educacional, político, ético e epistêmico, em direção à descolonização e à transformação na educação superior no Brasil. Todo país colonizado é, de certa forma, um território fértil de enraizamento da violência para os grupos subalternos, gerando uma cultura autoritária na sociedade (Estado, mercado e comunidade). No percurso investigativo realizado, surgiram alguns questionamentos: a) que tipos de sociabilidades estão sendo construídas em nosso país? b) Quais são as brechas decoloniais já existentes? c) Quais são as brechas decoloniais que podemos construir? d) As práticas pedagógicas interculturais podem contribuir para o enfrentamento do racismo acadêmico? e) O que poderia ser uma universidade “outra”? A partir dessas questões, este ensaio visa refletir acerca da branquitude e como podemos colaborar para descolonizar a supremacia branca que é ainda tão visível em nossas universidades. Primeiro aborda-se sobre sociabilidade, pois toda universidade está dentro de um contexto, no qual também incide, em um processo recursivo. Em seguida abordam-se as brechas decoloniais nas universidades a partir do pensamento de Rita Segato e acrescentam-se os elementos mais recentes dos avanços destes espaços nas universidades brasileiras, como a interculturalidade, pelos estudos de Catherine Walsh e Vera Lucia Candau, que se apresenta como ferramenta necessária para a inclusão do outro como legítimo no espaço acadêmico. Por fim, resgata-se a problemática brasileira, seus desafios, possibilidades e realizam-se considerações acerca da universidade inclusiva, antirracista e democrática.
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