Plantas alimentícias não convencionais no agreste meridional: uso e saber ambiental dos feirantes em transição agroecológica
DOI :
https://doi.org/10.51359/2238-6211.2025.264576Mots-clés :
agrobiodiversidade, etnobotânica, hábitos alimentares, segurança e soberania alimentarRésumé
As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) possibilitam caminhos para novos hábitos alimentares para as comunidades, entretanto, essas biodiversidades vegetais são consideradas intemperes no cenário atual do agronegócio. Vistas como ervas daninhas, são negligenciadas para uso alimentício e acabam em desuso. Afim de analisar os usos e conhecimentos sobre as PANC que compõem os agroecossistemas dos agricultores familiares, esta pesquisa teve o objetivo de realizar um levantamento de recursos vegetais alimentícios negligenciados através da identificação das PANC, bem como o conhecimento e práticas de uso realizadas por agricultores familiares em transição agroecológica em Garanhuns/PE. Ao todo, foram 14 participantes-chave, divididos em sete UPVF, que participaram de entrevistas guiadas semiestruturadas com abordagem quali-quantitativa. Após as análises de dados, observou-se uma média dos agroecossistemas de aproximadamente 5 ha, com foco, em geral, na horticultura. Em relação as PANC, foram identificadas 40 espécies pertencentes a 40 famílias botânicas. Dentre as famílias, Asteraceae, Cactaceae e Myrtaceae se destacaram com maior representatividade de espécies citadas. As espécies vinagreira (Hibiscus Sabdariffa L.) e ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata Mill.) demonstraram uma maior aceitabilidade na comercialização. Percebe-se que muitas PANC ainda estão em desuso, entretanto, por conta da popularização do termo, principalmente pelos movimentos gastronômicos e pesquisadores etnobotânicos, gradativamente essa agrobiodiversidade vem se inserindo no interesse dos agricultores familiares e nos hábitos alimentares da sociedade.
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