Como um problema se torna público? Anotações pragmatistas a partir da marcha da maconha no Brasil
DOI :
https://doi.org/10.51359/2317-5427.2019.243754Mots-clés :
public, public problems, pragmatism, marijuana marchRésumé
Recuperando antigas reflexões dos filósofos pragmatistas Dewey e Mead, este texto discorre sobre a natureza do público e suas particularidades em relação ao social e ao estatal, mas também busca – a partir do retorno ao trabalho do sociólogo Joseph Gusfield – discutir o processo pelo qual aspectos da realidade se tornam sensíveis para que diferentes setores da sociedade demandem a assunção de responsabilidades estatais. Nesta perspectiva, não são apenas os argumentos cognitivos que competem para o reconhecimento da autoridade em relação a um problema, mas também a capacidade narrativa (com seus elementos retóricos de convencimento e persuasão), os níveis de poder pregresso dos agentes envolvidos, os recursos, interesses e habilidades de que dispõem para influenciar a formação, o desenvolvimento ou a multiplicação de opiniões. O ponto de partida desta comunicação é de que o caráter público de uma situação – assim como a sua dimensão problemática – não é elemento transcendental, mas imana da própria situação e dos agentes envolvidos. Na discussão do processo de tornar público um determinado problema, a análise da ação social como performance também tem lugar nesse texto. Por fim, o artigo apresenta recentes dados de pesquisa sobre o Movimento Marcha da Maconha no Brasil, visando a demonstrar como as transações com esta droga se tornaram um problema público no país.
Références
ALEXANDER, Jeffrey. Cultural pragmatics: social performance between ritual and strategy. In: ALEXANDER, J. et al. (ed.). Social performance: symbolic action, cultural pragmatics and ritual. Cambridge: Cambridge University Press, 2006. p. 29-90.
BECKER, Howard S. Segredos e truques da pesquisa. Rio de Janeiro: Zahar, 2007 [1998].
BECKER, Howard S. Rendre la sociologie pertinente pour la société. SociologieS[Online], Débats, La situation actuelle de la sociologie, mis en ligne le 09 mai 2012. Disponível em http://journals.openedition.org/sociologies/3961. Acesso em 23 mar. 2018.
BORGES, Antonádia et al. Pós-antropologia: as críticas de Archie Mafeje ao conceito de alteridade e sua proposta de uma ontologia combativa. Sociedade e Estado, vol. 30, n. 2, maio-agosto 2015. p. 347-369.
BRANDÃO, Marcílio Dantas. A “reversão do estigma” na Marcha da Maconha em Recife. In: XVI Congresso Brasileiro de Sociologia, 2013, Salvador. XVI Congresso Brasileiro de Sociologia - A sociologia como artesanato intelectual, 2013.
BRANDÃO, Marcílio Dantas. O “problema público” da maconha no Brasil: anotações sobre quatro ciclos de atores, interesses e controvérsias. Dilemas, v. 7, p. 703-740, 2014a.
BRANDÃO, Marcílio Dantas. Ciclos de atenção à maconha no Brasil. Revista da Biologia, v. 13, p. 1-10, 2014b.
BRANDÃO, Marcílio Dantas. Os ciclos de atenção à maconha e a emergência de um “problema público” no Brasil. In: MACRAE, Edward; ALVES, Wagner Coutinho. (Org.). Fumo de Angola: canabis, racismo, resistência cultural e espiritualidade. 1ed.Salvador: EDUFBA, 2016, v. 1, p. 103-132.
BRANDÃO, Marcílio Dantas. Dito, feito e percebido: controvérsias, performances e mudanças na arena da maconha. Tese [Doutorado em Sociologia]. Recife: UFPE e EHESS, 2017.
BRASIL, Presidência da República Federativa do. Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016. Brasília: Presidência da República, 2016.
BURKE, Kenneth. Performance and Change. In: BURKE, Kenneth. Attitudes Toward History, vol. 1, 1935. p. 95-207.
CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de. Drama, ritual e performance em Victor Turner. In: Sociologia & Antropologia, vol. 3, n. 6, Julho-dezembro de 2013. p. 411-440.
CEFAÏ, Daniel. Pourquoi se mobilise-t-on? Les théories de l'action collective. Paris: La Découverte, 2007.
CHATEAURAYNAUD, Francis. A captura como experiência: investigações pragmáticas e teorias do poder. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.32, n. 95. São Paulo, 2017. Disponível em https://dx.doi.org/10.17666/329504/2017. Acesso em 16 out. 2017.
CORRÊA, Diogo Silva; DIAS, Rodrigo de Castro. Crítica e os momentos críticos: De La Justification e a guinada pragmática na sociologia francesa. MANA 22(1): 67-99, 2016. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/0104-93132016v22n1p067. Acesso em 16 out. 2017.
DEWEY, John. Democracy and Education. The Middle Works, vol. 2. SIU Press, 1976 [1916].
DEWEY, John. O desenvolvimento do pragmatismo americano. Sci. stud. Vol. 5, n. 2. São Paulo, abr./jun. 2007 [1922]. p. 227-243.
DEWEY, John. The Public and Its Problems. New York: Henry Holt and Co., 1927. [citado a partir de edição francesa: Le public et ses problèmes. Paris: Gallimard (collection Folio Essais), 2010.]
DEWEY, John. Philosophy’s Search for the Immutable. From the quest for certainly. In: DEWEY, John. The essential Dewey, vol. I – Pragmatism, education, democracy. Bloomington: Indiana University Press, 1998 [1929]. p. 102-112.
DEWEY, John. Context and Thought. In: DEWEY, John. The essential Dewey, vol. I – Pragmatism, education, democracy. Bloomington: Indiana University Press, 1998 [1931]. p. 206-216.
DEWEY, John. Logique. La théorie de l’enquête. Paris: PUF, 1993 [1938]. FREIDSON, Eliot. Professional Powers. Chicago and London: The University of Chicago Press. 1986.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. 48ª ed. São Paulo: Global Editora, 2003 [1933].
FREYRE, Gilberto. Nordeste. Rio de Janeiro: José Olympio, 1937.
FREYRE, Gilberto. Sugestões em torno do Museu de Antropologia no Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. Recife: Imprensa Universitária, 1960.
GOFFMAN, Erving. Relations in public: microstudies of the public order. New York: Basic Books, 1971. [Também citado a partir da versão francesa La mise en scène de la vie quotidienne. Les relations en public. Paris: Les éditions de Minuit, 1973.]
GRAFMEYER, Yves; JOSEPH, Isaac. L'École de Chicago: naissance de l'écologie urbaine. Paris: Flammarion, 2004 [1994].
GROSS, N. Pragmatism, Phenomenology, and Twentieth-Century American Sociology. In: CALHOUN, Craig (ed.). Sociology in America – A History. Chicago: The University of Chicago Press, 2007.
GUSFIELD, Joseph R. The culture of public problems: drinking-driving and the simbolic order. Chicago and London: The University of Chicago Press. 1981.
GUSFIELD, Joseph R. Performing Action: Artistry In Human Behavior and Social Research. New Brunswick: Transaction Publishers, 2000.
GUSFIELD, Joseph R. La culture des problèmes publics. Paris: Economica, 2008 [1981].
GUSFIELD, Joseph R. Los nuevos movimientos sociales: De la ideología a la identidad. Madrid: Centro de Investigaciones Sociológicas, 1994.
HOUTONDJI, Paulin J. Conhecimento de África, conhecimento de africanos: duas perspectivas sobre os Estudos Africanos. Revista Crítica de Ciências Sociais, 80, março 2008, p. 149-160.
JOAS, Hans. Pragmatismo. In: BOTTOMORE, Tom, OUTHWAITE, William (eds.). Dicionário do pensamento social do Século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996. p. 598-600.
LEWIS, J. D., SMITH, R. L. American Sociology and Pragmatism: Mead, Chicago Sociology, and Symbolic Interaction. Chicago: The University of Chicago Press, 1987.
MEAD, George Herbert. Mind, Self and Society. MORRIS, C. W. (ed.). Chicago: University of Chicago Press, 1934.
MEAD, George Herbert. The Philosophy of the Act. MORRIS, C. W. (ed.). Chicago: University of Chicago Press, 1938.
MEAD, George Herbert. The Individual and the Social SeIf. Chicago: University of Chicago Press, 1982.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999 [1945].
POGREBINSCHI, Thamy. Pragmatismo: teoria social e política. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2005.
POGREBINSCHI, Thamy. A democracia do homem comum: resgatando a teoria política de John Dewey. In: Revista Sociologia Política, 23, nov. 2014. p. 43-53
QUÉRÉ, L. Le travail des émotions dans l’expérience publique. In: CEFAÏ, Daniel, TERZI, Cédric (dir.). L’expérience des problèmes publics. Paris: Éditions de l’EHESS, 2012. p. 135-162.
QUERINO, Manuel Raimundo. A raça africana e os seus costumes na Bahia. In: Annaes do 5º Congresso Brazileiro de Geografia, 1916. v.2. Salvador: Imprensa Official do Estado, 1916.
RITZER, George. Teoría sociológica contemporanea. 3ª ed. Madrid: McGraw-Hill/Interamericana de España, 1987.
SCHECHNER, Richard. Performance theory. New York: Routledge, 1988.
SCHUTZ, Alfred; LUCKMANN, Thomas. The Structure of the Life World. Evanston: Northwestern University Press, 1973.
TEIXEIRA, João Gabriel L. C. Análise Dramatúrgica e Teoria Sociológica. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais. 1998, vol.13, n.37. p. 89-100
THÉVENOT, Laurent. Des Institutions en Personne: une sociologie pragmatique en dialogue avec Paul Ricœur. Études Ricœuriennes / Ricœur Studies, Vol 3, No 1 (2012), p.11-33
TURNER, Victor. Dewey, Dilthey and drama: an essay in the anthropology of experience. In: TURNER, Victor, BRUNER, Edward M. (orgs.). The anthropology of experience. Urbana: University of Illinois Press, 1986. p. 33-44
TURNER, Victor. The anthropology of performance. New York: PAJ Publications, 1987.
ZASK, J. Présentation de l'édition française – La politique comme expérimentation. In: DEWEY, J. Le public et ses problèmes. Paris: Gallimard, 2001. [citado a partir da ed. 2010 - Collection Folio Essais]
Téléchargements
Publié-e
Numéro
Rubrique
Licence
© Estudos de Sociologia 2019

Cette œuvre est sous licence Creative Commons Attribution 4.0 International.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado