A RECONQUISTA DO TERRITÓRIO: UMA EXPERIÊNCIA COOPERATIVA NAS MONTANHAS CÉVENOLES, NO SUL DA FRANÇA1

Autores

  • Maria Luiza Pires
  • Bernard Roux

Resumo

As montanhas Cévenoles estão localizadas no Maciço Central, abrangendo especialmente os departamentos de Lozère e Gard, sul da França2. Essas montanhas tornaram-se palco de importantes lutas religiosas, a exemplo da Guerra dos Camisards, entre 1702 e 1705, que opunha os partidários da Reforma às tropas católicas do rei (les dragons). Se, no passado, aquela área era também conhecida por uma importante produção de seda e de castanha, esta última considerada como a base alimentar das populações ali residentes, experimentou, ao longo do tempo, um forte processo de desaceleração econômica.

Com efeito, o relevo, o clima, as longas distâncias, além da precariedade da infraestrutura e dos serviços públicos, são considerados alguns dos fatores que muito dificultam a maior parte das atividades econômicas. Eis a razão pela qual Cévennes, como as demais áreas identificadas como desfavorecidas, vem sofrendo, historicamente, uma tendência de despovoamento e depressão econômica, sobretudo a partir do final do século XIX (BAZIN & ROUX, 1996; ROUX, 1997).

Essa tendência foi contida, em grande medida, pelas várias experiências baseadas em forte mobilização dos atores e de recursos, com vistas ao desenvolvimento de algumas atividades econômicas. Todas elas identificadas como exemplos de “resistência à marginalização,” resultantes de forte apego local (BAZIN & ROUX, 1996; ROUX, 1997). O que sugere, na literatura, a possibilidade de se falar em “fenômeno de reconquista” do território (CATANZANO, 1987 apud BAZIN & ROUX, 1996).

Hoje, a economia local está calcada no Turismo Verde, na criação de cabras para a fabricação de queijo, nas castanhas, na produção da cebola doce de Cévennes3, da maçã reinette de Vigan4, entre outros produtos. O turismo de inverno é praticamente inexistente na região, devido à baixa incidência de neve.

Foi em consideração à ideia de permanência no local, ou de resistência ao êxodo, que, em 1959, a Societé Coopérative Agricole Fromagerie des Cévennes5 foi criada, como atesta seu atual presidente, Jean Flayol. O senhor Flayol tem longa vivência na história desta cooperativa, pois além de haver assumido a presidência ao longo dos últimos 15 anos, também seu pai foi um dos líderes locais, havendo sido, inclusive, um dos principais idealizadores da criação desse empreendimento coletivo.


Biografia do Autor

Maria Luiza Pires

Maria Luiza Lins e Silva Pires: é doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (1999). Pós-doutorado em Sociologia pelo Institut National de la Recherche Agronomique, (INRA) em París (2007). Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Atua no âmbito da Sociologia Rural, Associativismo, Cooperativismo, Extensão Rural, Agricultura Familiar.

Bernard Roux

Bernard Roux é doutor em Desenvolvimento Agrícola pela Université Paris I (1974). Diretor da Revista  Economie Rurale desde 2006 e membro da Academia de Agriculture da France (2008). Diretor da Revista  Economie Rurale a partir de 2006.

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