Por uma análise sociológica crítica e descolonizadora da inovação social no Sul global

Autores

DOI:

https://doi.org/10.51359/2317-5427.2025.240077

Palavras-chave:

inovação social, ethos, epistemologia, racionalidade econômica, Sul

Resumo

Inovação social é um tema ainda pouco discutido na produção sociológica brasileira. Este texto propõe uma análise crítica e descolonizadora da inovação social, por meio de revisão bibliográfica. Os resultados evidenciaram, inicialmente, a existência de imprecisões e controvérsias devido à amplitude empírica e teórica que a inovação social abarca, as quais foram sistematizadas em três grupos: origem tecnológica voltada à acumulação de capital, orientação teórica (múltiplas concepções de mudança social) e desafios metodológicos na promoção e mensuração de mudanças qualitativas. Posteriormente, o conceito de ethos foi usado como dispositivo analítico para os seguintes aprofundamentos decorrentes das controvérsias: (1) racionalidade econômica: a primazia do "social" sobre "o econômico" questiona a moderna economia instrumental e a vincula epistemologicamente a uma racionalidade substantiva; (2) intencionalidade ético-política: relacionada a cada ator social que inova (Estado, mercado e sociedade) e; (3) intensidade democrática: aborda a importância da qualidade da participação. Esses elementos elucidam a diversidade presente na inovação social e contribuem para a mensuração de sua intensidade e impactos. O estudo concluiu que, se o debate epistemológico crítico se mostra necessário no Norte, ele é imprescindível no Sul, onde a inovação social não pode se restringir a resolver problemas sociais, mas resgatar saberes e construir poder.

Biografia do Autor

Adriane Vieira Ferrarini, Universidade Federal de Pelotas/UFPel

Universidade Federal de Pelotas/UFPel. Professora e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pelotas/UFPel. Pesquisadora bolsista produtividade 2 do CNPq. Colíder do Grupo de Pesquisa em Economia Solidária e Cooperativa (EcoSol)/CNPq. Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Referências

ABRAMOVAY, Ricardo. Entre deus e o diabo: mercados e interação humana nas ciências sociais. Tempo Social, vol. 16, n. 2, p. 35-64, 2004.

ANDRÉ, Isabel; ABREU, André. Dimensões e espaços da inovação social. Finisterra, nº 81, p. 121-141, 2006.

BOUCHARD, Marie. . Social innovation, an analytical grid for understanding the social economy: the example of the Québec housing sector. Service Business Journal, vol. 6, n. 1, p. 47-59, 2011.

BRESSER-PEREIRA, Luis Carlos. A construção política do Estado. In: Lua Nova, n. 81, p. 117-146. 2010.

CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2001.

CARVALHO, Nanci. Autogestão: o nascimento das ONGs. Brasiliense: São Paulo. 1993.

CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Rio de Janeiro: Vozes. 1998.

CHESBROUGH, Henry. Open innovation: researching a new paradigm. Oxford: Oxford University Press. 2006.

CLOUTIER, Julie. Qu’est-ce que l’innovation sociale? Crises, ET 0314. 2003. Disponível em: http://base.socioeco.org/docs/et0314.pdf Acessado em: 06/06/2025.

COLEMAN, James. Social inventions. In: Social Forces, vol. 49, n. 2, p. 163-173. 1970.

CORAGGIO, José Luis. (Org.). ¿Que éslo económico? Materiales para un debate necesario contra el fatalismo. Buenos Aires: Ciccus. 2009.

CRUZ FILHO, Paulo, FERRARINI, Adriane Vieira, GAIGER, Luiz Inácio; VERONESE, Marília. Social enterprises in Brazil. Annals of 6th EMES Research Conference on Social Enterprise - ICSEM Latin American Panel, Louvan-la-neuve, Bélgica. 2017.

DEMO, Pedro. Pobreza da pobreza. Rio de Janeiro: Vozes. 2003.

DRAIBE, Sônia. As políticas sociais do regime militar brasileiro: 1964-84. In: SOARES, G.; D'ARAÚJO, M. C. (Orgs.). 21 anos de regime militar: balanços e perspectivas. Rio de Janeiro: FGV Editora, p. 271-309. 1989.

FERRARINI, Adriane Vieira. Pobreza: possibilidades de construção de políticas emancipatórias. São Leopoldo: Oikos. 2008.

FERRARINI, Adriane Vieira. O ethos da inovação social: implicações ético-políticas para o estudo de práticas produzidas em diferentes ambientes. Revista Contemporânea, vol. 6, n. 2, p. 477-466. 2016.

FERRARINI, Adriane Vieira.Inovação social e ciências sociais: epistemologias e práticas transformadoras no Sul global. In: FERRARINI, Adriane Vieira; BUENO, Aline C. P. (Org.) Inovação social: diálogos teóricos e práticas integradas. 1. ed. São Leopoldo: Editora da Unisinos. v. 01, p. 13-31. 2022.

FERRARINI, Adriane Vieira; VERONESE, Marília. Piracema: uma metáfora para o microempreendedorismo associativo no Brasil. Otra Economía, vol. 47, n. 1, p. 131-152. 2010.

FLEURY, Sonia. Democracia com exclusão e desigualdade: a difícil equação. Relatório A Democracia na América Latina do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Brasília: Brasil. 2003.

GAIGER, Luiz Inácio; CORRÊA, Andressa. O diferencial do empreendedorismo solidário. Revista Ciências Sociais, Unisinos, vol. 47, n. 1, p. 34-43. 2010.

GAIGER, Luiz Inácio. Notas de sala de aula. São Leopoldo: UNISINOS. 2017.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A. 2005.

HEILBRONER, Robert. A natureza e a lógica do capitalismo. São Paulo: Ed. Ática. 1988.

HULGÅRD, Lars; FERRARINI, Adriane Vieira. Inovação social: rumo a uma mudança experimental na política pública? Revista Ciências Sociais, Unisinos, vol. 46, n. 2, p. 256-263. 2010.

IAMAMOTO, Marília. A questão social no capitalismo. Revista Temporalis, ano 2, n. 3, p. 9-32. 2001.

IVO, Anete. Metamorfoses da questão democrática: governabilidade e pobreza. Buenos Aires: CLACSO. 2001.

JESSOP, Bob; MOULAERT, Frank; HULGÅRD, Lars; HAMDOUCH, Abdedlillah. Social innovation research: a new stage in innovation analysis? In: MOULAERT, F.; MACCALLUM, Diana; MEHMOOD, Abid.; HAMDOUCH, Abdedlillah (Orgs.) The international handbook of social innovation. Cheltenham: Edward Elgar Publishing Limited. 2013.

LACERDA, Luiz Felipe; FERRARINI, Adriane Vieira. Inovação social ou compensação? Reflexões acerca das práticas corporativas. In: Polis, vol. 35, n. 1, p. 1-16. 2013.

MAINGUENEAU, Dominique. A propósito do ethos. In: MOTTA, Ana; SALGADO, L. (Orgs.) Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, p. 11-30. 2011.

MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1967.

MÉSZÁROS, István.Para além do capital. Campinas: Editora da Unicamp. 2002.

MOULAERT, Frank; MARTINELLI, Flávia; GONZÁLES, Sara; SWYNGEDOUW, Erik. Introduction: Social Innovation and Governance in European Cities. In: European Urban and Regional Studies, vol. 14, n. 3, p.195-209. 2007.

MOULAERT, Frank; MACCALLUM, Diana; HILLIER, Jean. Social innovation: intuition, precept, theory and practices. In: MOULAERT, F.; MACCALLUM, Diana; MEHMOOD, Abid.; HAMDOUCH, Abdedlillah (Orgs.) The international handbook of social innovation. Cheltenham: Edward Elgar Publishing Limited.

MURRAY, Robin; CAULIER-GRICE, Julie; MULGAN, Geoff. The open book of social innovation. London, NESTA/ The Young Foundation, 2010. Disponível em: http://www.nesta.org.uk/sites/default/files/the_open_book_of_social_innovation.pdf. Acesso em: 05/06/2025.

NOVY, Andreas; LEUBOLT, Bernhard. Participatory Budgeting in Porto Alegre: social innovation and the dialectical relationship of state and civil society. In: Urban Studies, vol. 42, n. 11, p. 2023-2036. 2005.

PHILLS, Jr. James A.; DEIGLMEIER, Kriss; MILLER, Dale. T. Rediscovering social innovation. Stanford Social Innovation Review, Fall, 2008. Disponível em http://www.ssireview.org/articles/entry/rediscovering_social_innovation/ Acesso em 05/06/2025.

POLANYI, Karl. The livelihood of man. New York: Academic Press. 1977.

POLANYI, Karl. A grande transformação: as origens da nossa época. Rio de Janeiro: Campus. 2000 [1944].

RAUD-MATTEDI, Cécile. Análise crítica da sociologia econômica de Mark Granovetter: os limites de uma leitura do mercado em termos de redes e imbricação. In: Política & Sociedade, vol. 6, n. 1, p. 59-82. 2005.

ROBBINS, Lionel. An essay on the nature and significance of economic science. London: Macmillanand Co. Limited. 1945.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Sociedade-providência ou autoritarismo social? In: Revista Crítica de Ciências Sociais, nº 42. 1995.

SANTOS, Boaventura de Sousa. (Org.) A crítica da razão indolente – contra o desperdício da experiência. Para um novo senso comum: a ciência, o direito e a política na transição paradigmática. Vol. 1, São Paulo: Cortez. 2000.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Produzir para Viver: os caminhos da produção não capitalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2002.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Conhecimento prudente para uma vida decente: ‘um discurso sobre as ciências’ revisitado. Lisboa: Afrontamento. 2003.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Notas de sala de aula. Universidade de Coimbra, Coimbra. 2005.

SKOCPOL, Theda. Unravelling from above (Unsolved mysteries - the Tocqueville files). In: The American Prospect, n. 25, p. 20-25. 1996.

SOARES, Gianna. Responsabilidade Social Corporativa: por uma boa causa!? In: RAE-eletrônica, vol. 3, n. 2, p. 2-15. 2004.

TARDE, Gabriel. La logique sociale. Paris: Synthélabo. 1999 [1923].

WEBER, Max. Economy and society. Berkeley: University of California Press. 1968 [1922].

Downloads

Publicado

01-07-2025