Uma leitura sobre as origens do Movimento da Matemática Moderna (MMM) no Brasil

Autores

  • Antônio Maurício Medeiros Alves UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS - UFPEL
  • Denise Nascimento Silveira Professora Adjunta do Instituto de Física e Matemática da UFPEL; atuando na Licenciatura de Matemática e nos programas de pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática da FAE/UFPEL; no programa de Educação Matemática do IFM/UFPEL e, no Programa de pós-graduação em Educação e Tecnologia do IFSUL-RS - Campus Pelotas

Resumo

A partir do final dos anos de 1950, diferentes debates sobre a necessária renovação do ensino da Matemática, nos diferentes níveis de ensino, ocuparam professores, pedagogos e outros sujeitos envolvidos com a educação, no Brasil e no mundo. Tais debates desencadearam um movimento que no Brasil ficou conhecido como Movimento da Matemática Moderna (MMM). O MMM tem sido temática de diferentes estudos de pesquisadores que têm, como foco, as mudanças ocorridas na disciplina de Matemática. Esse texto procura contribuir para a superação da representação de “importação” de um modelo imposto, pois os elementos aqui problematizados indicam que, na verdade, a adesão ao MMM no Brasil se deu pelo convencimento da maioria dos professores de que havia necessidade de uma reforma para superação dos problemas enfrentados no ensino dessa disciplina e de que a proposta da Matemática Moderna, com base na aproximação dos estudos do Grupo Bourbaki aos estudos da psicologia, poderia ser um meio para isso.

Biografia do Autor

Antônio Maurício Medeiros Alves, UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS - UFPEL

Professor Adjunto do Instituto de Física e Matemática da UFPEL, atuando na Licenciatura de Matemática e nos programas de pós-graduação em Ensino de Ciência e Matemática da FAE/UFPEL; no programa de Educação Matemática do IFM/UFPEL. Atual coordenador da Licenciatura de Matemática Diurno.

Referências

REFERÊNCIAS revista
Pinto, Fischer e Monteiro (2011)
Aliás, o nome Matemática Moderna apresenta-se, a rigor, indevidamente, pois, na realidade, não se objetiva ensinar um programa completamente diferente daqueles tradicionalmente conhecidos. O que se deseja essencialmente com Modernos programas de Matemática (e esta seria a expressão mais aconselhada) é modernizar a linguagem dos assuntos considerados imprescindíveis na formação do jovem estudante, usando os conceitos de conjunto e estruturas (SANGIORGI, 1962, p. 2 apud PINTO, FISCHER e MONTEIRO, 2011, p. 104).

Miorim (1998)
A nova preocupação em modernizar o ensino de Matemática, entretanto, teria sido originalmente motivada por acontecimentos ocorridos fora do campo científico-tecnológico, mas a ele totalmente vinculados. [...] Durante os primeiros anos da década de 50, vários projetos começaram a ser desenvolvidos, tendo em vista a melhoria do ensino secundário, especialmente por meio da adequação à realidade da universidade e aos avanços tecnológicos. Mas foi um fato não ligado diretamente à situação escolar dos Estados Unidos que acabou acelerando as propostas pedagógicas americanas e desencadeando um movimento internacional de modernização. O lançamento, em 1957, do primeiro foguete soviético – o Sputnik – levou o governo americano a tomar consciência de que, para resolver o problema da clara desvantagem tecnológica existente em relação aos russos, era necessário repensar o ensino de matemática e o de ciências (p. 108).

Valente
No texto, Sangiorgi cunhou uma das representações que serão propagadas nos estudos posteriores sobre o que ficou conhecido como Movimento da Matemática Moderna: o interesse estadunidense na modificação dos programas e métodos do ensino de matemática e ciências como fruto da guerra fria (VALENTE, 2008, p. 27).

Guimarães (2007),
É corrente a ideia de que nasceu nos Estados Unidos da América o movimento e impulso que veio a lançar a reforma para a modernização do ensino da Matemática dos anos 60. Bob Moon (1986), no entanto, considera essa visão muito simplista, tal como a ideia, também muito divulgada, de que foi a reacção nos EUA ao lançamento do Sputnik que veio a estar na origem da realização do Seminário de Royaumont, ideia que, como diz, “não é sustentada pelos factos”. Segundo Moon, as bases da reforma da Matemática Moderna, desenvolveram-se em paralelo na Europa e nos EUA e “os americanos viram Royaumont como uma oportunidade para aprender sobre os desenvolvimentos europeus” (p. 21).

França (2012)
Apesar da origem europeia, foram os investimentos do governo norte-americano, no ensino de matemática, os grandes responsáveis pela divulgação do Movimento de reforma pelo mundo, que desencadearam a proliferação dos congressos, a formação de grupos de estudos, as experiências em novas metodologias e agregaram mais adeptos e multiplicadores (FRANÇA, 2012, p. 61-62).

Santos (1990, p.21)

O desenvolvimento de uma disciplina escolar está condicionado a fatores internos e externos. Os primeiros dizem respeito às próprias condições de trabalho na área, e os últimos estão diretamente relacionados à política educacional e ao contexto econômico, social e político que a determinam. Valente (2008)
Se o edifício matemático repousa sobre estruturas, que correspondem além do mais às estruturas da inteligência é, então, sobre a organização progressiva dessas estruturas operatórias que é preciso estar baseada a didática matemática (PIAGET et all, 1955, p. 32, apud VALENTE, 2008, p. 585).

Piaget (1979)
Ora, é espantoso constatar que as primeiras operações das quais se serve a criança em seu desenvolvimento, e que derivam diretamente das coordenações gerais de suas ações sobre os objetos, podem precisamente se repartir em três grandes categorias, conforme sua reversibilidade proceda por inversão, à maneira das estruturas algébricas (no caso particular: estruturas de classificação e de números), por reciprocidade, como nas estruturas de ordem (no caso particular: seriações, correspondências seriais etc.) ou, em lugar de se fundar sobre as semelhanças e diferenças, as uniões inocentadas pelas leis de proximidade, de continuidade e de fronteiras, o que constitui estruturas topológicas elementares (que são, do ponto de vista psicogenético, anteriores às estruturas métricas e projetivas, contrariamente ao desenvolvimento histórico das geometrias, em conformidade, porém, com a ordem de filiação teórica!). Esses fatos parecem indicar, portanto, que as estruturas-mãe dos Bourbaki correspondem, sob uma forma naturalmente muito elementar, senão rudimentar, e bastante afastada da generalidade e da possível formalização que revestem sobre o plano teórico, às coordenações necessárias ao funcionamento de toda inteligência, desde os graus mais primitivos de sua formação (PIAGET, 1979, p. 24).

Leme da Silva e Oliveira (2006):
A visão de Matemática expressa pelos Bourbaki considera a Matemática como um edifício dotado de uma profunda unidade, sustentada pela teoria dos conjuntos e hierarquizada em termos de estruturas abstratas, entre elas, algébricas e topológicas. [...] Este grupo exerce influência significativa no MMM internacionalmente e, em particular, no Brasil (p. 4153).

Publicado

01-01-1991

Edição

Seção

Artigos: demanda contínua