Florestan Fernandes e a crítica da formação colonial brasileira
trabalho, racismo e capitalismo dependente
DOI:
https://doi.org/10.51359/2675-7354.2023.257912Palabras clave:
Florestan Fernandes, modo de produção escravista, raça e classe, racismo, capitalismo dependenteResumen
A obra de Florestan Fernandes, especificamente voltada para o estudo das relações raciais entre negros e brancos no Brasil, apresenta fortes vínculos com a sua interpretação do processo de emergência, formação e consolidação do capitalismo dependente. Várias críticas, muitas delas baseadas em leituras apressadas que desconsideram o sentido exato de suas posições teóricas, metodológicas e políticas, foram-lhe erroneamente dirigidas, suscitando em visões equivocadas de que Fernandes teria afirmado a ausência de consciência de classe no escravo ou que o desenvolvimento capitalista conduziria automaticamente à eliminação do racismo. No presente artigo, será brevemente analisado o ensaio A sociedade escravista no Brasil, publicado como primeiro capítulo de Circuito fechado (1976), visto que esse trabalho é fundamental para compreender como o modo de produção escravista alimentou o nascente capitalismo brasileiro. Embora posterior aos livros mais conhecidos do autor sobre a questão, como A integração do negro na sociedade de classes (1964), o referido texto reconstitui de maneira mais nítida suas conexões de sentido entre trabalho escravo, estratificação racial e a acumulação originária que engendrou a emergência da formação capitalista no Brasil. Essa exposição permitirá desconstruir os equívocos das críticas acima indicadas e recuperar as ideias de Florestan Fernandes sobre as interações dialéticas entre raça e classe no capitalismo dependente. Suas teses conduzem, em última instância, a pensar a luta anticapitalista no Brasil a partir da confluência entre raça e classe como polos políticos da construção de uma consciência socialista pelo conjunto das classes trabalhadoras e massas despossuídas.
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