Chamada dossiê do Desenho e Suas Imparidades
Organizadores:
Edson Macalini (Universidade Federal do Vale do São Francisco/Brasil)
Camila Moreira (Universidade Federal de Minas Gerais/Brasil)
Anna Moraes (Universidade do Estado de Santa Catarina/Brasil)
Do desenho
É vasto o universo do desenho - na atualidade o território se amplia ainda mais na medida em que compreende sua pluralidade. Se tornando evidente nas produções contemporâneas sua autonomia que borra fronteiras estéticas e retoma singularidades do princípio da comunicação humana - desenhos e escritas se fundem no mundo gráfico que habita, se expande e adentra outras linguagens. “Desenho não é coisa somente de lápis e papel”, mas da ação do registro da linha, traço, forma provocada por objetos, e também devaneios, imaginações, pensamentos, descrições, narrativas que permitem construirmos desenhos mentais e escritas. Desenho também se enquadra no lugar de passagem para concretização de obras em múltiplas linguagens que nascem de esboços, rascunhos, rastros, vestígios, anotações que surgem do pensamento, migram para o mundo dos projetos, objetos, artefatos, intersecções, simbioses que adquire características de acordo com a concepção de cada grupo social, povo ou cultura.
Nas produções artísticas contemporâneas tem sido comum a presença do desenho dedicado às escritas e/ou faturas que revelam suas imparidades, personalidades daqueles que criam e singularidades de seu universo. Nutrem diálogos e inquietações plurais, oriundas dos artistas/pesquisadores que desenham, investigam e/ou escrevem. Torna-se cada vez mais terreno fecundo de discussão transdisciplinar, dialogando com profissionais de forma universal, autônoma e perceptiva.
O filósofo Jacques Derrida inferiu diversas contribuições a respeito, sobre modos de ver, interpretar e até mesmo compreender o desenho sob os aspectos estéticos ao perguntar:
- “O que é o desenho?”, minha resposta é: “Eu não sei o que é o desenho”. E, incessantemente, sou tentado a reconduzir o desenho, na medida em que ele desenha alguma coisa e em que identifica uma figura, na medida em que é orientado pelo desígnio, isto é, por um sentido, ou uma finalidade, que permite sua interpretação, sempre sou tentado a puxar o desenho para o insignificante, isto é, para o traço. E foi por aí que, incessantemente, fui levado a reconduzir minha preocupação com o desenho na direção da minha preocupação mais antiga e mais geral com o traço de escrita, com a linha da escrita na medida em que consiste em rede ou sistema de traços diferenciais. (DERRIDA, 2012, p. 165)¹
De acordo com o filósofo, os organizadores deste dossiê compreendem a produção e pesquisa em desenho como rede ou sistemas plurais, e estes, irão conduzir os eixos norteadores desta coleção de escritas que incluem produções que versam sobre os procedimentos de criação de desenhos em ateliês, pesquisas e práticas coletivas contemporâneas.Serão aceitos artigos teóricos, teóricos-artísticos, ensaios visuais, entrevistas que articulem reflexões e entrelaçamentos estéticos e poéticos.
As/os interessadas/os deverão submeter seus trabalhos na plataforma da Revista Cartema, conforme as Diretrizes para Autores, disponível em https://periodicos.ufpe.br/revistas/CARTEMA até o dia 01/12/2023. O lançamento da revista está previsto para junho de 2024.
¹ DERRIDA, Jacques. Pensar em não ver - escritos sobre as artes do visível (1979-2004). Org. Ginette Michaud; Joana Masó; Javier Bassas. Trad. Marcelo Jacques de Moraes. Florianópolis: UFSC, 2012.