Processos de categorização sobre a pobreza: o que dizem as lideranças de favela

Abstract

Neste artigo, buscamos analisar os processos de categorização sobre a noção de "pobreza"  produzidos pelos seguintes agentes: (i) pessoas que viveram a situação de vulnerabilidade e a superaram; e/ou (ii) pessoas que participam de movimentos sociais de combate a ela. Para isso, realizamos uma pesquisa qualitativa a partir de entrevista semiestruturada aplicada entre agosto e setembro de 2022 com lideranças de Organizações Não Governamentais (ONGs) que fazem parte da rede Gerando Falcões, um ecossistema de desenvolvimento social. O corpus da pesquisa consiste em 12 entrevistas com 13 lideranças de 7 ONGs. O objetivo geral foi analisar como a categorização comportou-se como um recurso discursivo que revelou elaborações discursivas e julgamentos de valores morais em sua dimensão social e linguística. Os objetivos específicos foram: a) identificar categorizações e categorizações heterodialógicas envolvendo a noção de pobreza; b) analisar os processos de categorização à luz da literatura sociológica e sociolinguística sobre estigma social; c) analisar como os processos de categorização de pobreza evocam a complexa realidade das pessoas que a vivem. Como resultado, identificamos i) sete categorizações pelas lideranças, que estão articuladas a uma perspectiva multidimensional sobre pobreza; ii) três categorizações heterodialógicas a partir da percepção das lideranças sobre aqueles que vivem em situação de pobreza, articuladas a noção de que essas pessoas possuem uma visão unidimensional do fenômeno, ligada principalmente à fome; visão esta que demonstra uma não compreensão ou normalização da gravidade da violação de direitos a qual se encontram submetidas.