“Avante, soldados pernambucanos, o mundo nos observa”: A junta de Goiana e a Convenção de Beberibe no contexto da Independência do Brasil
DOI:
https://doi.org/10.22264/clio.issn2525-5649.2021.39.2.19Palavras-chave:
Revolução do Porto, liberalismo, Pernambuco, Independência do BrasilResumo
Em 29 de agosto de 1821, várias lideranças políticas e econômicas pernambucanas instalaram na Vila de Goiana uma Junta Governativa Provisória com o objetivo de adequar a Província de Pernambuco aos princípios constitucionalistas portugueses em vigência após a Revolução do Porto de 1820. Os arranjos tecidos pelos liberais pernambucanos tiveram seu próprio sentido e pretendiam desbancar o governador régio General Luís do Rego Barreto, representante do absolutismo. Com a instalação da Junta de Goiana, Pernambuco passou a contar com dois governos: o do Recife, capitaneado pelo governador, que se restringia ao Recife e à Olinda e seus distritos, e o de Goiana, que se estendia às demais localidades. Esta decisão foi ratificada pela Convenção de Beberibe. Ao contrário da historiografia tradicional e ufanista, que vê estes eventos como uma antecipação de Pernambuco da Independência do Brasil, as fontes do artigo revelam que não havia naquele momento desejos de ruptura com o Reino Unido português, mas sim de adequar a província à nova organização política em curso em Portugal a partir de 1820.Referências
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