Mentiras que parecem verdades
DOI :
https://doi.org/10.51359/2675-7354.2022.253109Mots-clés :
narrativa, mentira, ficção, fake news, veridicção, verossimilhançaRésumé
O artigo tem por tema narrativa, ficção e verdade e objetiva mostrar, com fundamento teórico e metodológico na semiótica de perspectiva francesa e na teoria literária, que mentira e verdade são efeitos de sentido construídos discursivamente e que a mentira é da ordem do dizer, requerendo intencionalidade do enunciador. São problematizados, aqui, os discursos mentirosos que circulam em redes sociais e aplicativos de mensagem e os discursos por meio dos quais, através da mentira, cria-se uma suprarrealidade que permite ampliar a percepção do real. Procura-se responder às perguntas: o que há em comum entre fake news e narrativas literárias?; e o que faz com que mentiras pareçam verdades? As fake news são discutidas com base no conceito de veridicção, já as narrativas literárias são observadas fundamentando-se no conceito de verossimilhança. Conclui-se que, no texto literário, a aceitação do texto “mentiroso” como verdade se assenta num contrato tácito pelo qual o enunciatário sabe estar no universo da ficção e que, nas fake news, não existe a cláusula de ficcionalidade. Nelas, a aceitação da mentira como verdade está ligada a uma leitura não racional do texto e ao fato de a notícia mentirosa vir ao encontro das crenças e valores do enunciatário.Références
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