Transformações nos territórios agroexportadores e produtores de alimentos. O caso de Río Negro e Canelones, Uruguai

Résumé

Desde o final do século XX, o agronegócio tem imposto sua territorialidade ao espaço agrário uruguaioatravés de estratégias e processos que diferem espacial e temporalmente, nos agentes que lideraram oprocesso, e nos impactos e conflitos que desencadearam. Este artigo analisa a inserção do agronegócio eas transformações geradas em dois territórios com características contrastantes, territórios orientados paraa produção de alimentos e territórios de agroexportação de commodities. A estratégia de pesquisaintegrou o processamento de informações oficiais e a realização de vinte entrevistas semi-estruturadascom agentes-chave (ligados à produção familiar, empresariale agroindustrial, movimentos sociais ereferências institucionais e acadêmicas) a fim de complementar a caracterização das transformações eidentificar elementos que enfatizem as relações de poder e compreendam os conflitos emergentes. Oagronegócio tem ingressado no Uruguai através de uma estratégia legal e socialmente aceita, a comprae/ou arrendamento de terras, o que tem limitado a geração de conflitos. Em Río Negro, um território comtradição de agricultura industrial e pecuária, o agronegócio tem gerado alianças com o capital local. EmCanelones, um território historicamente orientado para a produção de alimentos para abastecimento local,a territorialidade do agronegócio tem desencadeado importantes conflitos com a produção familiar. Aentrada do agronegócio, a estrutura agrária pré-existente e oapoio do Estado uruguaio determinaram que fosse a territorialidade do agronegócio o fator mais importante na geração de tensões, mesmo diante deprocessos de territorialização-desterritorialização. A inserção do agronegócio em territórios de soberaniaalimentar tem desencadeado mais conflitos do que em territórios historicamente orientados para aexportação. Os conflitos em Canelones tornaram possível uma transformação territorial altamenterelevante ligada à organização, o empoderamento dos produtores de alimentos e a resistência ao modelodo agronegócio, sendo o primeiro passo para a consolidação dos territórios de soberania alimentar.