História, memória e táticas discursivas em conflitos fundiários urbanos
Trapicheiros e Horto, Rio de Janeiro
DOI:
https://doi.org/10.51359/2525-6092.2024.262081Palavras-chave:
conflitos fundiários, regularização fundiária, metodoloiga, história oral, memóriaResumo
A estrutura fundiária brasileira, urbana e rural, é marcada não apenas por enorme desigualdade, mas também pela irregularidade cartorial. Comunidades populares estabelecidas há décadas podem subitamente sofrer pressões por remoção, legais ou extralegais. Na defesa pelo direito à permanência, é preciso contar com vários técnicos, entre os quais o historiador, quem, além de traçar a trajetória da ocupação, às vezes também é o responsável por descobrir o registro imobiliário para a regularização fundiária. Este artigo discute a) algumas questões metodológicas sobre a pesquisa histórico-fundiária bem como b) as tensões da prática profissional do historiador perante a memória e as táticas discursivas mobilizadas pelas comunidades ou pelos seus adversários. A fim de ilustrar tais problemáticas, discutirei dois conflitos fundiários em comunidades urbanas cariocas: Trapicheiros, uma pequena favela; e o Horto, um dos conflitos fundiários mais célebres e midiatizados da cidade pela dimensão e inserção dentro do Jardim Botânico. Concluímos que a abordagem empática pelo historiador dos discursos e da memória da comunidade tende a ser contraproducente em cotejo com sua incorporação crítica em laudos históricos densos.
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