NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS NO/DO CÁRCERE: HORIZONTES E POSSIBILIDADES DE RESISTÊNCIAS ÀS COLONIALIDADES

Autores

DOI:

https://doi.org/10.32359/debin2022.v5.n19.p189-221

Palavras-chave:

colonialidade, privação de liberdade, narrativas autobiográficas, Brasil.

Resumo

O presente artigo tem como objetivo analisar como as narrativas autobiográficas de sujeitos privados de liberdade podem protagonizar formas de resistência à colonialidade de poder, de saber e de ser. A narrativa trabalhada foi Diário de um Detento (2016), escrita por Jocenir Prado durante sua privação de liberdade no sistema prisional paulista nos anos 1990. Para refletir sobre as suas potencialidades de reescrita das histórias subalternizadas, o estudo baseia-se no pensamento decolonial, admitindo as histórias e saberes deslegitimados socialmente como essenciais à resistência à colonialidade e à constituição de saberes decoloniais. Para a análise, foi necessário contextualizar o sistema penitenciário brasileiro, as práticas de aprisionamento e os sujeitos que são mais afetados pelas lógicas coloniais de subalternização, marginalização e criminalização. Os resultados indicaram que as narrativas autobiográficas possibilitam a superação das visões assistencialistas e estigmatizantes, bem como promovem o reconhecimento e a humanização dos sujeitos em privação de liberdade.

Biografia do Autor

Victória Mello Fernandes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Mestranda em Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na linha de pesquisa Violência, Conflitualidade, Direito e Cidadania. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania (GPVC). Graduada em Ciências Sociais/licenciatura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente integra como pesquisadora o grupo de pesquisa Trabalho, Educação e Conhecimento (CNPq), coordenado pela Prof.Dra. Maria Clara Bueno Fischer. Tem experiências e interesse nos campos da Sociologia do Direito, Sociologia da Violência e Minorias Sociais, com ênfase em estudos sobre o cárcere e privação de liberdade, educação de jovens e adultos em contexto de privação e restrição de liberdade, educação formal, não formal e informal e economia solidária. Atua em oficinas de remição de pena pela leitura.

Ana Claudia Godinho, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doutora em Educação (UNIISINOS, 2012) e Mestre em Educação (UNISINOS, 2007). Pós-doutora em Educação (UFF, 2018). Professora adjunta da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGEDU/UFRGS . Membro do Comitê de Ética na Pesquisa - CEP/UFRGS. Coordenadora do grupo de pesquisa Educação de Jovens e Adultos em Contextos Escolares e Não Escolares (CNPq). Coordenadora do projeto de pesquisa "A leitura no sistema prisional: potencialidades e desafios da remição de pena pela leitura no Brasil" (financiamento do CNPq), que está articulado com o projeto de extensão Remição de Pena Pela Leitura: formação de educadores de jovens e adultos. Pesquisadora da Rede Interinstitucional de Grupos de Pesquisa sobre Políticas de Restrição e Privação de Liberdade. Membro do conselho editorial da Revista Educação e Ciências Sociais. Avaliadora ad hoc do GT 18 - Educação de Jovens e Adultos da Anped desde 2019. 

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Publicado

2023-01-07

Como Citar

Mello Fernandes, V., & Godinho, A. C. (2023). NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS NO/DO CÁRCERE: HORIZONTES E POSSIBILIDADES DE RESISTÊNCIAS ÀS COLONIALIDADES. Revista Debates Insubmissos, 5(19), 189–221. https://doi.org/10.32359/debin2022.v5.n19.p189-221

Edição

Seção

Dossiê- Alcances Autoformativos da Pesquisa (Auto)biográfica Para a Educação

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