Comentários sobre o testemunho em “A terceira margem do rio”, de João Guimarães Rosa

Autores

DOI:

https://doi.org/10.51359/1984-7408.2024.264151

Palavras-chave:

testemunho, literatura comparada, João Guimarães Rosa

Resumo

“A terceira margem do rio”, do autor João Guimarães Rosa, apresenta uma clara estrutura testemunhal. Apesar dos inúmeros estudos acerca do conto, ainda há aspectos a serem explorados, notadamente em relação ao caráter testemunhal do conto. Uma questão não respondida: quais são os limites do testemunho do personagem-narrador? Em sua maioria, os estudos já existentes buscam analisar o conto a partir de perspectivas relacionadas à loucura ou ao paroxismo do pai canoeiro (Albert, 2003; Goulart, 2013). Mas talvez seja possível e interessante aprofundar uma análise do conto à luz de outras obras do autor cujas estruturas também simulam um testemunho. As obras mencionadas aqui, a modo de comparação, são Grande Sertão: Veredas e “Campo Geral” — textos do famoso ciclo de 1956, portanto anterior às Primeiras Estórias (2019). Não menos importantes para a reflexão sobre o caráter testemunhal da obra são as fontes que aprofundam e problematizam conceitos de testemunho e seu relacionamento intrínseco com a literatura (Derrida, 2015; Benjamin, 1995; Felman, 2014; Sarlo, 2007; Seligmann-Silva et al., 2009). A partir de uma análise com base nessas referências, é possível chegar a algumas considerações. Talvez a principal delas nos diga que o componente metafísico e transcendental do conto (relacionado a seu caráter insólito, paradoxal), diz respeito não tanto à loucura, mas ao próprio testemunho; mais precisamente à sua possibilidade (e, também, à sua impossibilidade) de pôr em palavras acontecimentos catastróficos, sejam coletivos ou individuais.

Biografia do Autor

Thalisson de Oliveira Machado, Instituto Federal do Rio Grande do Sul

Graduando do curso de Letras Português/Inglês no Instituto Federal do Rio Grande do Sul – Campus Osório

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19-12-2024

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