A EDUCAÇÃO DO CAMPO COMO MODO DE RESISTÊNCIA À INVESTIDA NEOLIBERAL: RELATO DE EXPERIENCIA DE UM FAZER ESCOLA NO ASSENTAMENTO DO MST

Autores

DOI:

https://doi.org/10.32359/debin2021.v4.n15.p155-177

Palavras-chave:

Educação do Campo, Resistência, MST.

Resumo

O neoliberalismo tem acelerado a mercantilização da educação e das políticas públicas conquistadas pela população brasileira desde o fim da ditadura militar. No estado do Espírito Santo esse processo foi ampliado na área da educação desde a segunda gestão do governo de Hartung, mediante o fechamento de escolas do/no campo, mas ainda é vigente no Governo Casagrande. A pesquisa “A resistência inventiva da escola do campo frente a ofensiva do estado” tem como objetivo analisar as práticas de resistência de educadores e educandos da EEEF “Paulo Damião Tristão Purinha”, do assentamento Sezínio Fernandes de Jesus, no município de Linhares no estado do ES para dar visibilidade ao processo de afirmação da vida dos trabalhadores em suas atividades de resistência, garantindo os princípios filosóficos, pedagógicos e políticos que se afirmam no plano de estudos, na auto-organização, na agroecologia e mística como práticas de libertação que fomentam resistências que se dão desde o chão da escola. O problema da pesquisa apresentado buscou-se aproximar dos modos como se constituem os processos de criação, invenção, de afirmação da vida nas práticas de organização e trabalho educacional na educação do campo do MST, na atual conjuntura neoliberal dura e árida, que parece consolidar-se a cada dia mais no Brasil e no nosso estado do Espírito Santo. O caminho metodológico que percorremos utilizou como ferramentas de produção dos dados a constituição da escrita analítica no diário de campo, a recuperação e produção de imagens fotográficas que colaboram no registro da história do assentamento, realização de entrevistas semiestruturadas praticadas com moradores, militantes, educadores que fizeram parte da história do assentamento e da criação da escola do campo. Para realizá-las, elaboramos um roteiro de questões a serem abordadas com os indivíduos que seriam entrevistados. Em seguida, identificamos os educadores e coordenadores do assentamento. Os dados produzidos foram trabalhados segundo pistas da análise do discurso realizada por Foucault. Os educadores do setor de educação do MST tomaram a iniciativa de constituir a resistência a partir das ações como: Coletividade – grupos organizados – gestão democrática; reafirmação dos instrumentos da Pedagogia da Alternância; realização de místicas; Agroecologia: A realização da horta, ou quintais produtivos; Projeto de pesquisa ou Trabalho de Conclusão do ano ou do Ensino Fundamental; e Auto-organização. Finalizamos com seis lições desse processo da pesquisa na escola do campo que resistem e reinventam sua forma de se manter firme na luta por uma escola para a formação humana: A Escola do movimento como tempo espaço de fermentação de: a) novas relações de poder, da gestão democrática; b) de processos de subjetivação; c) de processos de resistência mesmo em tempos de pandemia – COVID 19; d) de processos de singularidades coletivas, do papel do indivíduo na história; e) das contradições da sociedade capitalista que reverberam na educação e, finalmente; f) A pesquisa em movimento da Análise Institucional como uma fermentação das contradições de subjetividades vivenciadas, construídas que revoluciona as novas subjetividades revolucionárias.

Biografia do Autor

Marcia Roxana Cruces Cuevas, Universidade Federal do Espírito Santo

Departamento de psicologia.

Psicologia da Educação.

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Publicado

2022-01-07

Como Citar

Cruces Cuevas, M. R., & Ribeiro, M. de F. M. (2022). A EDUCAÇÃO DO CAMPO COMO MODO DE RESISTÊNCIA À INVESTIDA NEOLIBERAL: RELATO DE EXPERIENCIA DE UM FAZER ESCOLA NO ASSENTAMENTO DO MST. Revista Debates Insubmissos, 4(15), 155–177. https://doi.org/10.32359/debin2021.v4.n15.p155-177

Edição

Seção

DOSSIÊ - LUTAS, RESISTÊNCIAS E SABERES POPULARES: A EDUCAÇÃO É O CAMINHO PARA A EMANCIPAÇÃO

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